Em meio a declarações polêmicas do presidente, que atacaram desde os governadores do Nordeste até o problema da fome no Brasil, pouco se falou sobre a sanção de uma lei que trouxe esperança a milhares de famílias brasileiras. Na última quinta-feira (18), ao lado da primeira-dama, Michelle, Jair Bolsonaro sancionou o texto que inclui as especificidades inerentes ao transtorno do espectro autista nos censos demográficos.
A assinatura foi comemorada por pais de crianças autistas, entre eles o apresentador Marcos Mion. O artista diz que a descoberta do autismo de Romeu, um de seus filhos, de 13 anos, foi uma das melhores coisas que já aconteceram em sua vida. Sobre a sanção da nova lei, ele afirmou que essa era uma demanda aguardada há muito tempo e, como o Censo é realizado a cada 10 anos no Brasil, não se queria ter que "esperar mais dez".
— É uma comunidade que fica sempre muito marginalizada, fica muito invisível a comunidade autista. A gente tem milhares de casos, de histórias de muito sofrimento pelo Brasil: pela falta de conhecimento, pela falta de recursos, mas também pela falta dessas pessoas serem enxergadas. Ter o autismo incluído no censo é uma forma delas se sentirem representadas — explicou Mion.
A coluna consultou a gaúcha Vanessa Sanches, integrante do Coletivo de Pais de crianças autistas, que realiza ações para desenvolver os pequenos e promover a inclusão deles na sociedade. Ela é mãe do Vicente e acredita que esse é um "grande passo" para a construção de políticas públicas sobre o tema.
— Para mim, que sou mãe do Vicente, que é autista, sempre é bom ver que a sociedade ou pelo menos parte dela tem o interesse em apoiar ações que nos fortaleçam no sentido de falar mais sobre o autismo. Esse apoio (do apresentador Marcos Mion) foi bem legal e acredito que ajudou muito para a sanção da lei que incluiu o autismo no censo. Em resumo, eu acredito que é um grande passo para a construção de política pública sobre o autismo. Se a gente for ver, há pouco tempo (2012) que tivemos um lei que colocou o autismo como deficiência e assim garantiu alguns direitos aos nossos filhos — explicou à coluna.
Vanessa lembra que houve alguns grupos que criticaram a maneira como a sanção aconteceu (pelo fato de o presidente receber um artista e não as associações representantes da causa). Mas a interpretação dela vai além:
— Eu particularmente vejo a inclusão de informações sobre pessoas autistas no Censo com muita esperança, porque espero e desejo de verdade que esse mapeamento leve a conquistas, como por exemplo a inclusão de uma disciplina obrigatória sobre o autismo nas faculdades de medicina (argumento este inclusive usado no Senado para aprovação do projeto de lei, antes do presidente sancionar) — completou.
Ela diz ainda que espera que as conquistas envolvendo o autismo não parem de avançar, como por exemplo quanto à confirmação cada vez mais célere do diagnóstico de crianças com o espectro autista, através do sistema público de saúde, o SUS.