Muito tem se falado sobre a declaração desrespeitosa do presidente da República, Jair Bolsonaro, a respeito da morte e o desaparecimento, durante o período da ditadura, do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. A manifestação veio como forma de atacar a entidade e um suposto posicionamento a respeito do episódio envolvendo Adélio Bispo, autor do atentado do qual Bolsonaro foi alvo durante a campanha eleitoral.
Desrespeito, desumanidade e postura incompatível com a posição de um chefe de Estado foram alguns dos predicados atribuídos ao comportamento do presidente. As críticas vieram até mesmo de aliados.
Nesta terça-feira (30), o presidente da OAB, diretamente atacado na fala do presidente, reiterou em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, que pretende acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), para que Bolsonaro se manifeste sobre a morte de seu pai, Fernando Santa Cruz, que desapareceu em 1974. Segundo o presidente da entidade, Bolsonaro precisa "esclarecer o que sabe".
Mas é sobre outro ponto que gostaria de chamar a atenção: o ódio que move o país e que se tornou ingrediente recorrente nas manifestações de Bolsonaro. Foi assim com famílias vítimas da ditadura, com ambientalistas, com a jornalista Miriam Leitão, com o problema da fome no Brasil.
— Não é o ódio que vai acabar com os problemas do Brasil. Não é o fim dos jornalistas, dos artistas, dos advogados que vai acabar com os problemas do Brasil. O presidente deveria estar preocupado em distensionar o país — aconselhou Felipe Santa Cruz.
De fato, faria bem ao presidente e ao desenvolvimento do país que Bolsonaro vestisse de vez o uniforme de um chefe de Estado preocupado com os problemas da nação e com a construção de um ambiente com menos ódio e segregação. Ao contrário, que se unissem esforços em busca de soluções para uma população que sofre com a falta de emprego e a grave crise nas contas públicas.
Acerta o presidente, por exemplo, quando se dedica a comunidades historicamente deixadas de lado pelo Poder Público e que agora passaram a ganhar visibilidade. É o caso do cuidado com as crianças com doenças raras, com a assinatura de portaria que inclui medicamento para portadores de atrofia muscular espinhal (AME) na lista do SUS, ou a inclusão de dados sobre autistas no Censo de 2020.
O presidente da OAB tem razão. O ódio não vai nos levar adiante, presidente.
— A OAB tem a obrigação, ainda mais em momento de ódio, de salvaguardar os direitos de minorias, do Meio Ambiente, dos direitos humanos. (Tem a obrigação) De tentar mostrar à população que as soluções não passam pelo aniquilamento do outro — acrescentou Santa Cruz.
Aniquilar quem pensa diferente e estimular a divisão de uma sociedade polarizada em nada nos ajudará na construção de um país mais justo, mais desenvolvido e com melhores condições para a sua população.