Ler livros, quem diria, está na moda outra vez. Mais do que isso: lê-los em grupo e compartilhar a experiência (até então solitária) virou tendência nas redes antissociais (e na vida real, acredite). Os clubes de livros explodiram.
Não pense que é coisa de nerd. À frente de alguns dos mais badalados coletivos literários, estão artistas, influenciadores e até políticos.
A atriz norte-americana Reese Witherspoon (do filme Legalmente Loira) chegou recentemente à centésima obra indicada, celebrada (e dividida, óbvio) com seus 3 milhões de seguidores no Instagram.
A lista internacional conta ainda com nomes como Oprah Winfrey, Dua Lipa, Emma Watson e quem mais você puder imaginar.
No Brasil, o youtuber Felipe Neto já arrastou uma multidão para a sua comunidade online dedicada à leitura, que supera 5,5 mil assinantes e mais de 200 mil expectadores.
Personalidades como Gabriela Prioli, Leandro Karnal e Taís Araújo estão no páreo. No Rio Grande do Sul, o segmento também avança.
Conversei sobre o tema com a jornalista e escritora gaúcha Fê Pandolfi, que, sozinha, já contabiliza sete clubes — cinco presenciais e dois virtuais, próprios ou em parceria com marcas diversas (WAS, de roupas femininas, Diário de Bordo, agência de viagens, e Unimed, plano de saúde).
São 350 pessoas inscritas (a maioria mulheres), sendo que há mais 300 (!!!) na fila de espera. Já imaginou?
— É incrível o interesse. Tem gente que não lia e passou a ler três livros por mês. Acho que as pessoas entenderam que pode ser algo descomplicado e leve. Os clubes viraram, também, uma espécie de terapia em grupo — analisa Fê, citando, é claro, um título: Team Human, de Douglas Rushkoff, que em 2023 esteve no Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre.
Na obra, traduzida para o português como Equipe Humana (Bookman, 256 páginas), o teórico da mídia argumenta que um espírito anti-humano parece ter tomado a sociedade de assalto, minando a capacidade de conexão das pessoas. As tecnologias criadas (em tese) para promover a cooperação acabaram por nos dividir. Ele prega o reencontro urgente.
O que os clubes de livros de a ver com isso? Tudo.
No fundo, não se trata apenas de ler. Trata-se de conviver, de achar a “sua turma”, de se libertar da má influência dos algoritmos, de voltar a ter uma comunidade, de sair das redes.
O livro, meus amigos e amigas, é só uma desculpa. Uma ótima desculpa, mas uma desculpa.
Falando em livros...
O Banco de Livros do Rio Grande do Sul está recebendo doações na Feira do Livro de Porto Alegre. A meta é ajudar escolas, creches e organizações comunitárias. O local de coleta fica na área infantil da Praça da Alfândega, em parceria com o clube de assinatura de livros TAG.