Já seria desafiador o suficiente abrir um negócio focado em literatura em um país em que 48% da população não lê e 31% nunca comprou um livro, segundo a última edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2020). Mas a TAG – Experiências Literárias foi além. Reavivou um modelo que parecia coisa do passado, extinto junto com o fim do Círculo do Livro, mas com a inovadora ideia de que o assinante, em vez de escolher sua próxima leitura no catálogo, receberia em casa um título surpresa a cada mês. Faz 10 anos que a ousadia vem colhendo frutos.
Fundada em Porto Alegre em julho de 2014, a TAG conquistou a confiança ao oferecer um plano de assinatura em que as leituras mensais são escolhidas a dedo por um nome ilustre, algum escritor ou intelectual renomado, modelo batizado de TAG Curadoria. Luis Fernando Verissimo, Emicida e Natalia Timerman já assumiram esse posto. Hoje se configura como um dos maiores clubes do livro do Brasil, com 30 mil associados, sendo a maioria deles de São Paulo (30%) e do Rio Grande do Sul (12%).
Com edições graficamente atraentes, dignas de fazer os livros serem julgados pela capa, a TAG investiu em todos esses recursos para tornar mais cativante o simples ato de sentar-se e desfrutar de uma leitura. De preferência, longe do celular, o grande concorrente do mercado literário.
— Nosso papel é fazer as pessoas lerem mais. E isso passa por desmistificar a literatura e tirá-la daquele pedestal que todo mundo a coloca desde a época da escola, em que tínhamos que ler os clássicos, os cânones, os livros difíceis. Muita gente tem aversão à leitura por considerar que vai ser uma atividade muito exigente, muito difícil. Para nós, leitura tem que ser algo divertido, leve. Tem que ser um momento de satisfação, e não só de crescimento pessoal. A gente não acha que as pessoas têm que ler por algum motivo que não o prazer — diz Gustavo Lambert, sócio-fundador da TAG.
Em 2018, foi criado um segundo plano de assinaturas, focado em livros com histórias envolventes e mais fáceis de ler. Livros "vira-página", como define Lambert. O TAG Inéditos não tem curador, mas o exemplar que chega à caixinha de correio segue sendo uma surpresa para os assinantes. Sem medo de defender bandeiras, a editora também investe na diversidade, publicando autores negros, LGBT+ e muitas mulheres. Outra curiosidade: a maioria dos assinantes, cerca de 75%, é formada pelo público feminino.
— A maioria dos livros que saem pela TAG é de autoria feminina. É um momento do mercado literário, e a diversidade sempre esteve na nossa pauta — diz Laura Zuanazzi, sócia e diretora de marketing e produto.
Os anos pela frente demandam mais desafios. O mais imediato é reerguer o escritório abrigado no primeiro andar do Instituto Caldeira, no bairro Navegantes, em Porto Alegre, totalmente alagado pela enchente de maio. Preciosidades foram perdidas, como edições especiais que saíram pela TAG com autógrafos dos autores. Contudo, o depósito de livros, que migrou para São Paulo em 2020, está totalmente a salvo.
Outra marca da TAG, a Grow, focada em livros de desenvolvimento pessoal, foi encerrada neste ano. Depois da retomada, será momento de projetar como expandir. Lambert não descarta investir em novos públicos e novos gêneros.
— Pensamos em trabalhar literatura infantil e juvenil. Talvez oferecer livros que agradem diferentes tipos de leitores. Será que temos oportunidades na não ficção? São coisas que a gente se questiona com frequência — projeta.