Um livro sobre amor aos livros chegou ao topo das listas de mais vendidos do Brasil na última semana. Entre títulos de autoajuda espiritual e financeira e histórias açucaradas, o romance distópico Fahrenheit 451 (1953), do escritor americano Ray Bradbury (1920-2012), parece ter renascido das cinzas para uma nova geração.
O milagre da multiplicação de leitores tem nome: Felipe Neto. Com uma audiência potencial de 46,5 milhões de seguidores no YouTube, o empresário lançou no final de julho o Clube do Livro FN, plataforma em que os assinantes pagam R$ 499 por ano (o livro é adquirido por fora) para ter acesso a videoaulas e lives e interagir com outros leitores. Apenas na live da leitura de Fahrenheit 451, o clube conquistou 4 mil sócios.
Alguns dias antes, Fernanda Torres havia inaugurado um perfil no TikTok dedicado exclusivamente a indicações literárias. A estreia foi com a recomendação de livros que analisam diferentes aspectos da obra de Machado de Assis (Ao Vencedor as Batatas e As Ideias Fora do Lugar, ambos de Roberto Schwarz, O Otelo Brasileiro, de Helen Caldwell, e Machado, de Silviano Santiago).
No embalo de um renovado interesse impulsionado pelo vídeo elogioso de uma influencer americana, Machado também anda vivendo seus dias de best-seller póstumo.
Felipe Neto e Fernanda Torres talvez sejam as primeiras celebridades brasileiras a ingressarem no disputado terreno dos influencers literários, nicho que no Brasil ainda é dominado por desconhecidos ou ex-desconhecidos.
Nos Estados Unidos, o número de famosos (famosas, na verdade) com seus próprios clubes de leitura não pára de aumentar. A ponto do site The Cut publicar: “Por que toda mulher famosa agora tem um clube do livro?”. Oprah Winfrey começou o dela em 1996, recomendando mais de cem livros desde então.
Reese Witherspoon fundou uma empresa para gerir seu clube de leitura, a Hello Sunshine, que ajuda a transformar as histórias selecionadas em filmes e séries de TV. Estrelas como Dakota Johnson, Dua Lipa, Emma Watson, entre outras, também têm usado a atenção dos fãs e da mídia para falar sobre seus autores preferidos.
Se a leitura exige recolhimento, descobrir novos livros e autores pode ser uma experiência compartilhada: não há ferramenta de marketing mais poderosa do que um leitor apaixonado. Não importa o quanto as telas dominem o mundo e ditem o ritmo das nossas vidas, sempre vai haver alguém disposto a salvar seus livros favoritos da destruição, do esquecimento e da censura. Em poucas palavras, esse é o resumo da história narrada em Fahrenheit 451.