É possível que você nunca tenha ouvido falar disso, mas Porto Alegre tem uma fonte de 1866 que retrata o Guaíba e seus afluentes. Depois de um século longe do público, a principal peça do conjunto (até então sumida) foi localizada e está exposta na Fundação Iberê, na Capital.
É a estátua criada para simbolizar o manancial que banha a cidade, uma beleza de autoria desconhecida, em mármore de Carrara.
A história é a seguinte: no fim do século 19, o Chafariz do Imperador (como ficou conhecido) foi instalado na Praça da Matriz, quase em frente ao Theatro São Pedro (veja as fotos antigas acima).
No centro dele, estava a estátua do Guaíba (na figura de um jovem) e, ao redor, as alegorias de Jacuí, Sinos, Caí e Gravataí (representados por Ninfas e Netunos). Em 1907, a criação foi retirada dali para dar lugar ao monumento a Júlio de Castilhos, no local até hoje.
As peças foram parar em um depósito. A estátua principal acabou vendida e as demais seriam transformadas em pó de mármore, mas foram salvas graças à mobilização da sociedade — iniciada por um anônimo no jornal Correio do Povo.
Em 1935, o chafariz, então, ganhou um novo local, já sem o monumento ao Guaíba: a Praça Dom Sebastião, no Centro (ao lado do Colégio Rosário), que à época foi reurbanizada para as celebrações do centenário da Revolução Farroupilha.
Depois, após anos de vandalismo e deterioração, a fonte foi restaurada e, finalmente, ganhou o lugar definitivo: o jardim do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), no bairro Moinhos de Vento, onde está até hoje, em local de destaque.
Mas e a estátua do Guaíba?
Quando Gustavo Possamai, um dos curadores da exposição “Iberê Camargo — Território das Águas”, soube de tudo isso, decidiu procurá-la.
— Tinha tudo a ver com o tema da mostra. Acionei galeristas e, através de um marchand, descobri o paradeiro. Ela pertence a um casal de empresários da Capital — conta Possamai, que mantém preservada a identidade dos proprietários, que concordaram em ceder a peça para a exibição.
Vai por mim: a exposição com a alegoria do Guaíba e obras belíssimas de Iberê e Maria Camargo (todas ligadas ao tema dos rios e à preocupação ambiental desde sempre nutrida pelo artista e pela mulher) fica em cartaz até 23 de fevereiro. Também há documentos, mapas e fotos históricas da relação de Porto Alegre com o rio-lago.
Não deixe de conferir. E, claro, de admirar a estatua até então desaparecida.
Serviço
- O quê: exposição “Iberê Camargo — Território das Águas”
- Onde: Fundação Iberê (Av. Padre Cacique, 2000, bairro Cristal, Porto Alegre)
- Quando: de quinta a domingo, das 14h às 18h, até 23 de fevereiro
- Dica: aproveite para ir no mês de setembro, quando a entrada é gratuita