Escrever foi a saída encontrada por 54 autores e autoras para externar e compartilhar medos e angústias durante a maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul. Por iniciativa dos jornalistas Raphaela Donaduce Flores e Luís Felipe dos Santos, os textos ganharam vida no projeto "Diário da Enchente" (diariodaenchente.poa.br) e, agora, serão apresentados em voz alta.
Na próxima quinta-feira (22), a partir das 19h30min, o Ateliê PUCRS Cultura realiza o "Sarau da Enchente". A atividade será no térreo do Prédio 30, na Escola Politécnica, com entrada franca. É uma chance de conhecer os participantes e de conversar sobre o episódio que marcou tanto o Estado.
A ideia foi inspirada em textos produzidos pela escritora Julia Dantas à época (ela teve a casa atingida pela água e perdeu quase tudo) e no Diário da Pandemia, criado pela autora no auge da covid-19, com "um relato por dia, um dia de cada vez".
— Procuramos a Julia para sugerir esse novo diário, sobre a tragédia climática, e ela nos uniu e nos estimulou a prosseguir — conta Luís Felipe.
O projeto virou realidade e ganhou importância por diferentes motivos. Um deles tem relação com o tema da saúde mental.
— A gente não queria criar um site para ter audiência. A ideia foi fazer uma espécie de terapia coletiva em grupo, para que as pessoas pudessem escrever livremente sobre o que passaram e sobre as suas angústias — explica Luís.
O objetivo foi alcançado, com a participação espontânea de gente que nem sequer se conhecia. Os textos são relatos vívidos de um momento difícil para todos.
— A escrita foi uma ferramenta muito potente para a elaboração do trauma, dos sentimentos. Escrever ajudou, de certa forma, a superar as dificuldades — avalia Raphaela.
Outra preocupação era preservar a memória da tragédia.
— É natural que, aos poucos, essa memória coletiva vá se esvaindo, porque é traumático, e as pessoas querem seguir em frente. O problema é: se a gente esquece, pode se repetir. O site também é uma forma de preservar isso e de garantir que o que passamos fique registrado — destaca Luís Felipe.
No sarau, haverá uma leitura dramática da atriz Manu Wunderlich e a participação dos autores, que lerão trechos de seus textos com imagens projetadas em um telão — cenas da tragédia captadas pelos fotógrafos André Ávila, Eduardo Seidl, Isabelle Rieger, Morgana Mazzon e Ramiro Sanches. Ao final, está prevista uma canja musical com Jei Silvanno.
Não há necessidade de inscrição. É só chegar.
A programação
- 19h30min: apresentação do projeto "Diário da Enchente"
- 19h40min: leitura dramática, por Manu Wunderlich
- 19h50min – 20h30min: leitura de seleção de textos do "Diário da Enchente" pelos próprios autores
- 20h30min – 20h45min: espaço aberto para a leitura de outros textos relacionados à enchente
- 20h45min – 21h15min: canja musical de Jei Silvanno
Sobre os idealizadores
Raphaela Donaduce Flores é jornalista, especialista em Gestão Cultural e Comunicação Empresarial e graduanda no curso de Escrita Criativa. Desde 2011, está à frente da Dona Flor Comunicação, agência que presta serviços de assessoria de imprensa e produção de conteúdo.
Luís Felipe dos Santos nasceu em 1985, é jornalista formado pela UFRGS, marido da Renata e pai da Morgana e do João Pedro. Trabalha com jornalismo digital há vinte anos. Tem passagens por veículos como Terra, Piauí e Aos Fatos. Hoje, é coordenador digital em GZH.