Este não é um texto sobre ópera. É sobre aqueles que assumem o desafio de correr riscos porque querem ir além. No último fim de semana, a nossa Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) fez isso: transformou um clássico em algo novo. Saiu aplaudida de pé.
La Bohème, obra-prima de Giacomo Puccini, é a ópera mais encenada do mundo, um sucesso estrondoso desde a estreia, em 1896, em Turim, na Itália. Por que, então, mexer em algo que dá tão certo há mais de cem anos? Por que arriscar?
Flávio Leite, diretor cênico da montagem, e Evandro Matté, diretor musical e regente, responderam a dúvida no palco, com música, canto, cenário, figurino e iluminação de excelência. Deu orgulho de ver.
Quem esteve no Theatro São Pedro no sábado (11) e no domingo (11), viu o universo erudito do canto lírico se encaixar nas obras do grafiteiro Celo Pax como se nada pudesse ser mais adequado.
Ópera e grafite? Sim! Deu certo, tanto quanto os solistas vestidos com roupas atuais, como se estivessem aqui mesmo, na Capital, vivendo uma história de amor escrita no século 19. Nada estava fora do lugar. Tudo fez sentido, inclusive o coro de crianças, em uma das cenas mais belas do espetáculo, com balões multicoloridos passando de mão em mão.
Talvez a coragem de pisar em território desconhecido e sair da zona de segurança seja a explicação para o êxito. Não é de hoje: sempre que a Ospa anuncia uma nova ópera, seja qual for, os ingressos se esgotam em menos de 24 horas (neste caso, foram apenas cinco horas!).
O segredo, meus amigos e minhas amigas, é a ousadia.
O que vem pela frente
Até o final do ano, haverá mais uma ópera no Theatro São Pedro, dos cantores selecionados para a edição 2024 do projeto Ópera Estúdio - uma fábrica de cantores líricos no RS, sobre a qual já escrevi aqui.
Antes disso, anote aí: para setembro, estão previstos dois espetáculos imperdíveis, que não são operísticos, mas que vale a pena acompanhar: a 9ª Sinfonia de Beethoven e o Concerto Especial OSPA e Grupo Corpo (um dos mais inovadores grupos de dança contemporânea no Brasil).