O Rio Grande do Sul está se transformando em um polo de ópera no Brasil, retomando uma antiga tradição. Mais do que isso: nossa Capital tornou-se uma "fábrica" de cantores e cantoras líricas, atraindo interessados de todo o país e um público fiel e caloroso. Quem tiver o privilégio de assistir ao espetáculo "Carmen", no Theatro São Pedro, neste fim de semana, testemunhará o que digo na prática. Não é exagero.
Essa transformação começou em abril de 2022, com a criação de uma cooperativa formada por pessoas apaixonadas pela voz. Mantida com doações de apoiadores e associados, a Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul (Cors) vive uma escalada de sucesso desde então, e o Projeto Ópera Estúdio é parte disso.
Trata-se de um curso pioneiro de formação de cantores no país, financiado pela Secretaria de Estado da Cultura e realizado pela Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, em parceria com a Cors e a Fundação Theatro São Pedro - três grandes instituições unidas em torno da causa de fazer do Estado um centro cultural único no Brasil.
É uma retomada. Se você observar a história da Ospa, fundada em 1950 pelo maestro Pablo Komlós, verá que a origem da orquestra (a mais longe do país em atividades ininterruptas) foi marcada por grandes espetáculos operísticos - incluindo a encenação de "Aida" em pleno Auditório Araújo Viana, em 1965. Detalhe: com o espaço lotado.
Após a morte do regente, em 1978, houve um arrefecimento dessa tradição, que agora renasce fortalecida, com uma diferença: desde a criação da Cors, a retomada ganhou constância e perenidade.
E todas as grandes montagens apresentadas desde então têm lotado as salas de exibição. No caso de "Carmen", realizada por alunos do curso (com dois grandes elencos, formados, em sua maioria, por iniciantes), as duas apresentações abertas ao público na noite de sábado (25) e no fim da tarde deste domingo (26) tiveram ingressos esgotados em menos de 48 horas.
Dá para acreditar?
Flávio Leite, à frente da Cors, tem um palpite sobre o que explica isso:
— É uma memória coletiva de um tempo que deixou saudades. Porto Alegre sempre gostou de ópera, basta olhar para a história da nossa querida Ospa, da qual tanto nos orgulhamos.
E, mesmo que você deteste a "cantoria", pense no seguinte: a cultura, para além do papel que exerce na formação de um povo, também movimenta a economia. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul só têm a ganhar com uma indústria criativa forte e autêntica.
Sobre a ópera Carmen
É uma das mais populares de todos os tempos, criada por Georges Bizet. Em Porto Alegre, ganhou uma produção especialíssima, com seus dois elencos e com duas estrelas da nova geração do canto lírico gaúcho, as mezzo-sopranos Carol Braga e Camila Umpiérrez, no papel principal - acompanhadas dos tenores Auildo Munhoz e Maicon Cassânego.
Considerada a primeira ópera realista, "Carmen" estreou em Paris, em 1875. Sua crueza chocou as primeiras plateias. Por aqui, a ambientação original da Sevilha da década de 1820 foi trazida aos dias atuais - e deu certo.
Com direção geral de Flávio Leite e concepção e direção cênica de Carlos Rodriguez, o espetáculo, que lotou o Theatro São Pedro, arrancou palmas do público no início, no meio e no fim. Sopranos, barítonos e companhia mostraram potência vocal, acompanhados da Orquestra Theatro São Pedro, conduzida à perfeição por Sérgio Sisto.