Quando a noite cair, neste domingo, Fernanda Montenegro, a maior e mais respeitada atriz brasileira, subirá ao palco do auditório Oscar Niemeyer, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, para ler diante de uma multidão.
É isso mesmo: ler. Sem pirotecnia, sem jogos de cena, sem trocas de figurino. Só ela, a luz, a voz e o texto.
Os 15,8 mil ingressos para a apresentação gratuita esgotaram-se em 25 minutos. Oitocentos bilhetes dão acesso à área interna do teatro. Os outros 15 mil são destinados ao gramado, onde haverá um telão com transmissão ao vivo.
Fernanda pode.
E só ela, talvez, tenha autoridade e estofo para fazer isso lendo Simone de Beauvoir sem correr o risco de ser “apedrejada” neste Brasil que teima em andar para trás na pauta dos costumes.
Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir viveu entre 1908 e 1986 na França. Filósofa e escritora parisiense, tornou-se um ícone do feminismo, ao escrever livros como O Segundo Sexo, de 1949. O texto diz mais ou menos assim: as mulheres não nascem mulheres, elas se tornam mulheres.
Como é que é?
Para Simone, as características tradicionalmente associadas à condição feminina derivam menos da “natureza” do que de mitos disseminados pela cultura (ou pela imposição de padrões sociais que conhecemos bem).
A autora pôs em xeque a forma como os homens viam as parceiras e como elas próprias se enxergavam em meados do século 20. Foi uma revolução e, por isso mesmo, provocou (e segue provocando) polêmica.
Mas, afinal, o que é ser feminista e por que isso incomoda tanto?
Antes que alguém aí me chame de “feminazi” (já estou esperando as mensagens raivosas), convido Fernanda para conduzir a conversa.
Do alto de seus 94 anos, a imortal da Academia Brasileira de Letras ouviu a mesma pergunta em uma entrevista recente concedida ao jornal Folha de São Paulo. Ela respondeu dizendo que feminismo “é igualdade”.
— Outro ganho humanista proposto e discutido por Beauvoir é esta frase: “Não espero que as mulheres tomem o poder dos homens para si mesmas, porque isso não mudaria nada.” É uma cabeça fantástica. E ela acrescenta: “Que as mulheres mudem não só a situação das mulheres, mas que as mulheres mudem o mundo!” A gente tem de ler isso de joelhos e agradecer a ela, entendeu?
É isso. Não se trata de “competir” com os homens e muito menos de renegá-los ou subjugá-los. Quem pensa assim entendeu tudo errado e certamente não leu Simone de Beauvoir.
Veja o vídeo em que Fernanda fala o que é o feminismo para ela: