Dias após o Rio Grande do Sul submergir na catástrofe climática, contei aqui a história de um grupo de estudantes da rede pública de Itajaí (SC) que decidiu ajudar crianças gaúchas atingidas pela enchente. Nesta semana, quase um mês depois, a história de empatia e afeto teve final feliz. E foi em Porto Alegre.
No início de maio, os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental chegaram preocupados à Escola Básica Professora Maria Rosa Heleno Schulte, no bairro Espinheiros (até pouco tempo, zona rural do município catarinense). Eles tinham visto notícias da tragédia e ouvido os pais falarem do assunto em casa.
Mesmo longe, passaram a juntar brinquedos e roupas para os "amiguinhos do Rio Grande do Sul" e, com a ajuda da educadora Elaine Cristina Gonçalves, escreveram cartas com mensagens de afeto. "Fique bem", "queria te mandar um pedacinho do meu coração" e "espero que você goste do nosso carinho" foram algumas das frases escritas pelos pequenos.
Sem saber a quem recorrer para enviar os presentes, Elaine entrou em contato com a redação de GZH por meio do nosso WhatsApp (anote aí, aliás: 51 99667-4125), e a mensagem chegou até mim.
Quando li o relato, na mesma hora, procurei a professora e publiquei um texto sobre a mobilização, pedindo o apoio de alguma empresa disposta transportar a preciosa carga.
Deu certo.
A Transportes Andrio, de Farroupilha, na Serra, tocada pelo casal de empresários Diogo Galafassi e Raiza Reindel Galafassi, escreveu para o nosso WhatsApp e se ofereceu para a atender o pedido, de forma voluntária, sem custo algum.
— Não podíamos deixar de levar a mensagem dessas crianças de Santa Catarina para as nossas aqui, ainda mais nesse momento. Esse é o sentido de trabalhar. O sentido de seguir. Apesar dos problemas e das dificuldades , o sentido é saber que se fez a diferença para alguém — diz Galafassi.
Em 26 de maio, o caminhão da transportadora recolheu as doações e cartinhas em Itajaí e partiu para a capital gaúcha, para entregar o material na PUCRS. Por meio da assessoria de comunicação, de professores, alunos e voluntários, a universidade prontificou-se a receber a carga e a levá-la às mãos de meninos e meninas acolhidos no abrigo instalado no parque esportivo da instituição.
A entrega ocorreu no início da tarde da última segunda-feira (3), e eu estive lá para acompanhar. Foi lindo ver a alegria da garotada diante de bonecas, carrinhos, super heróis, jogos e ursinhos. A turma entrou correndo na sala da brinquedoteca, criada especialmente para o abrigo, e fez a festa, sob o olhar atento das mães e das professoras.
Em meio à algazarra, Raíssa, 8 anos, parou, quietinha, para tentar ler a carta que encontrou junto à boneca escolhida. Ela mora no bairro Navegantes, uma das áreas alagadas em Porto Alegre. Teve dificuldades e pediu ajuda. Li com ela a mensagem escrita por Sabryna, de Itajaí, que dizia ter enviado "o coração", e não apenas brinquedos e roupas, para o RS. Raíssa sorriu em silêncio. Ela e outras crianças do abrigo, aos poucos, começam a voltar para casa. Perderam quase tudo, mas estavam felizes.
Na hora de ir embora, Raíssa olhou para trás e disse, baixinho:
— Obrigada!
Agradecimentos
Aqui vai meu agradecimento à professora Elaine, por ter confiado em Zero Hora e GZH, à Transportes Andrio, por ter lido a minha coluna e se prontificado a auxiliar, e à Regina Albrecht, da assessoria de comunicação da PUCRS, por ter ouvido a história e ajudado a garantir um pouco de alegria a famílias que passaram por tanto sofrimento.
Agradeço, também, às professoras Andreia Mendes e Bettina Steren, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Escola de Humanidades da PUCRS, que auxiliaram na distribuição dos presentes vindos de Itajaí e que, junto de toda a equipe, atuaram na brinquedoteca e nas ações com as crianças do abrigo. Trabalho incrível.