Quando recebeu o pedido de apoio, Jotapê Pax, um dos grandes nomes da arte urbana em Porto Alegre, não teve dúvidas: uniu-se a 50 voluntários do projeto social DU99 para revitalizar o Centro de Educação Profissional (CEP) da Fundação O Pão dos Pobres, em Porto Alegre. O resultado do trabalho, concluído no último sábado (15), é um sopro de esperança depois da tormenta.
Fundada em 1895 e responsável por acolher centenas de meninos e meninas carentes ao longo de sua história, a instituição ficou embaixo d'água na enchente de maio de 2024 e teve grandes prejuízos.
Com o estrago, as 160 crianças abrigadas no prédio acabaram sendo transferidas e só puderam retornar na última sexta-feira (14). A enxurrada também inviabilizou as oficinas do CEP, onde, até então, 1,8 mil jovens frequentavam 14 cursos profissionalizantes (como gastronomia, mecânica automotiva, eletromecânica de elevadores, manutenção de computadores e serralheria). Ali, praticamente tudo se perdeu.
Para ajudar a limpar o espaço, repintar as paredes e recuperar o que ainda era possível, a turma da DU99 dedicou dois dias de trabalho ao Pão dos Pobres, tudo de graça, com o apoio de doadores como a Tintas Coral e a Klips — que contribuíram com material para a pintura e dezenas de cadeiras. A Coral inclusive enviou um consultor técnico para orientar o serviço, sem qualquer custo. Estive lá no sábado e vi de perto a força do mutirão.
— Para nós, é muito gratificante poder ajudar uma instituição com a reputação e a importância do Pão dos Pobres. Se podemos ajudar, por que não fazer a diferença? Todos ganhamos com isso — diz a arquiteta Aline Fuhrmeister, à frente da iniciativa.
Enquanto os voluntários terminavam de limpar tudo, colorir a estrutura, higienizar móveis e construir novas mesas, JP Pax fazia magia em duas salas. Ex-aluno da instituição, ele já havia criado um painel no local no passado. Agora, o objetivo era levar um pouco de alegria ao ambiente gris e cobrir as marcas deixadas pela inundação.
— Tenho muitas lembranças desse lugar, onde estudei até o 6º ano. Quando me convidaram para participar do mutirão, topei na hora — contou JP.
Uma das paredes recebeu desenhos que lembram formas da natureza. A outra, um pássaro multicolorido.
Emocionado, João Rocha, gerente socioeducativo da entidade, agradeceu o empenho e celebrou o desfecho. Ele chegou a entrar de barco no prédio, no auge da crise climática (veja as fotos abaixo). Em parte do estabelecimento, a água chegou perto de dois metros de altura.
— Acreditávamos que só seria possível reabrir o CEP e trazer os alunos de volta em 60 dias. Com esse apoio, vamos poder fazer isso ao longo desta semana, o que é incrível — destacou Rocha.
Apesar disso, a batalha ainda não terminou. Agora, as oficinas precisam recuperar equipamentos e mobiliário. Doações podem ser feitas pelo pix 92666015/0001-01 (CNPJ). O trabalho é sério e ajuda muita gente. Vai por mim: vale apoiar a causa.