Elas ganharam destaque nos principais noticiários do mundo nesta semana. Estou falando das KlimaSeniorinnen, como são conhecidas na Suíça. Em tradução literal, são as “senhoras do clima” ou, em bom português, um grupo de idosas que deixou o conforto de seus lares, não para tomar chá com as amigas, mas para ir ao tribunal.
Elas decidiram exigir ações governamentais concretas contra as mudanças climáticas que afetam o planeta Terra. Unglaublich! Sim, incrível!
A história me fisgou na hora. Segundo reportagens da agência Reuters e da rede BBC, elas conseguiram a primeira vitória judicial em um caso envolvendo o tema no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, em Estrasburgo, na França. Como foi possível?
Com o apoio de advogados, a turma dos 70+ foi à Justiça sustentar a tese de que a idade e o gênero as torna particularmente vulneráveis a algo que todos nós já sentimos na pele: o efeito das ondas de calor provocadas pelo aquecimento global.
Os juízes ouviram e não só deram razão às ativistas como concluíram que os esforços do governo suíço para cumprir as metas de redução de CO2 (gás do efeito estufa) foram inadequados até o momento. Acontece que a decisão judicial vai muito além das fronteiras helvéticas. A jurisprudência pode influenciar a lei em 46 países europeus — e, de quebra, nos beneficiar também, já que os países ricos são os maiores emissores de CO2 do mundo.
Coincidentemente, na mesma semana, agências que monitoram o clima global confirmaram o que já desconfiávamos: o mês de março foi o mais quente registrado desde que se tem notícias. Recordes de temperatura foram quebrados por dez meses consecutivos. E vai piorar.
As KlimaSeniorinnen sabem disso e pensam no futuro dos filhos, netos e bisnetos. De onde saíram essas mulheres? Como chegaram à Corte? Se uma delas fosse minha avó, eu estaria orgulhosa, mas já não tenho avós comigo para conversar sobre o assunto.
O grupo surgiu em 2016 com 40 integrantes e hoje reúne mais de 2,5 mil associadas. Elas começaram a atuar localmente, em Berna e arredores, e foram expandindo as ações com o apoio do Greenpeace na Suíça, que foi quem bancou os custos do processo judicial. Não é à toa que até Greta Thunberg, a jovem ativista ambiental chamada de “pirralha” por um certo ex-presidente da República, celebrou a vitória em Estrasburgo.
Lendo as reportagens, o que mais me chamou a atenção não foram as declarações oficiais ou os discursos vitoriosos, mas uma frase singela, dita por Elisabeth Stern, do alto de seus 76 anos:
— Não fomos criadas para sentar numa cadeira de balanço e tricotar.
É isso. Nem todo mundo tem o ânimo, as condições e a coragem dessas mulheres. E, é claro, o Brasil não é a Suíça. Mas as “senhoras do clima” superaram os velhos estereótipos da velhice e provaram que não há limites para mudar o mundo. Ou, ao menos, para tentar.