A tragédia anunciada que matou 10 pessoas e deixou outras 15 feridas em um incêndio na madrugada de sexta-feira, na pousada Garoa, em Porto Alegre, deveria nos fazer pensar. Não só no absurdo da história toda, mas naquilo que nos faz humanos.
O absurdo ao qual me refiro é: como pode uma pensão conveniada à prefeitura ter funcionado por tanto tempo sem as mínimas condições e sem um Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) para atuar como hospedaria? Como pode, depois de tudo o que vivemos com a boate Kiss?
O caso ainda está sendo investigado, e os envolvidos terão a chance de se defender. Caberá à Polícia Civil indiciar os responsáveis e ao Ministério Público denunciá-los à Justiça, no devido processo legal.
Seja qual for o desfecho, é triste. Li, comovida, a reportagem de Humberto Trezzi, um dos nossos mais experientes jornalistas, sobre o velório e o enterro de parte das vítimas.
Eram, em sua maioria, pessoas em situação de vulnerabilidade, acolhidas na pousada por meio do convênio com a prefeitura. Não tinham ninguém ou, se tinham, a convivência havia se rompido, sabe-se lá por quais infortúnios e dramas.
O velório deles foi assim: vazio. Ninguém esteve lá, exceto alguns servidores municipais e o padre Lucas Mendes, homem de fé e de compaixão.
Em frente ao local do sinistro, não houve grandes manifestações nem arroubos. Os problemas que existiam na Garoa já haviam sido expostos em 2022, por um jornal chamado Boca de Rua, publicado desde 2000 por pessoas que viveram ou vivem ao relento na Capital. Quase ninguém deu atenção. Por quê? Será que algumas vidas valem mais do que outras?