Quando Júlia Victória Grohmann Finger deixou Ivoti para trás e avistou pela primeira vez a paisagem alva, inóspita e indomável da Antártica, prometeu a si mesma: iria voltar. Isso foi há 12 anos, quando ela era estudante de Biologia na Unisinos.
Desde então, a jovem pesquisadora participou de cinco jornadas científicas ao continente gelado pelo Programa Antártico Brasileiro e duas pelo Instituto Antártico Chileno, concluiu o mestrado e o doutorado e se especializou em aves marinhas. Em agosto de 2023, deu um novo passo: tornou-se guia polar.
Júlia atua em cruzeiros de expedição promovidos pela empresa norueguesa Hurtigruten Expeditions (HX), que leva pessoas do mundo todo às regiões frias, entre outros destinos. Lá, como ornitóloga e divulgadora científica, ela ensina o que aprendeu, compartilha a paixão pelos pássaros e mostra, na prática, os impactos da ação humana na terra, inclusive para quem não acredita na emergência climática.
— É um trabalho de sensibilização. A gente ajuda as pessoas a lerem aquela paisagem, que é única. Quem tem a oportunidade de conhecer, não volta igual para casa — destaca a cientista, que retornou de uma viagem de 50 dias em 22 de janeiro e, desde a última quinta-feira (7), vive uma nova aventura rumo à península branca.
Enquanto você lê estas linhas, Júlia se prepara para apresentar o petrel gigante, sua ave preferida (prima do albatroz), aos passageiros da expedição. Ou, enquanto sorve o mate (que, aliás, nunca falta na bagagem), explica o ciclo de vida dos pinguins, uma das espécies mais impactadas pelas mudanças climáticas. Junto a colegas como geólogos, glaciólogos e cientistas ambientais, ela dá palestras, oficinas e aulas práticas. O navio conta com um centro de ciência a bordo e também apoia pesquisas em curso.
Você pode estar aí se perguntando: ok, e o turismo não gera impacto? A resposta é sim, mas, naquele naco do planeta, o acesso é controlado. As embarcações seguem regras rigorosas, e os benefícios, na avaliação de especialistas como Júlia, superam potenciais danos.
— Existe um debate sobre isso, se a Antártica deveria mesmo permanecer aberta à visitação ou apenas restrita à ciência, mas as pessoas que vão até lá compreendem o que está em jogo e passam a advogar pela conservação. Como cientista, acredito que a gente precisa conhecer para aprender a respeitar. Esse é o segredo — diz a ornitóloga, que retorna para casa apenas em maio, para, em seguida, partir outra vez.