Foi no verão de 1997. Eu tinha acabado de ser reprovada no vestibular para jornalismo da UFRGS e da PUCRS. Pensava que era o fim, que jamais conseguiria passar, que nunca acertaria o número necessário de questões de matemática, que seria um fracasso na vida — todo aquele dramalhão típico de adolescente de 17 anos, você sabe.
Era início de fevereiro, e havia ainda outro desafio pela frente: eu iria deixar a casa dos pais, em Santa Cruz do Sul, para me mudar para Porto Alegre. Faria cursinho pré-vestibular. Todas as incertezas estavam ali, presentes, com o efeito de uma bigorna sobre o meu estômago.
Aí teve o Planeta.
Eu estava hospedada na casa alugada por familiares em Xangri-lá. Uma grande amiga, a Camila Haas, hoje arquiteta, também estava por lá com a família. Para a nossa sorte, a irmã dela, Fernanda, pretendia ir aos shows com o namorado. E ela ia de carro. Era mais velha e já tinha carteira.
Serei eternamente grata à Fernanda por aceitar carregar, no banco de trás (e nos calcanhares), duas pirralhas impertinentes em plena “aborrescência”. Mila e eu não aceitaríamos, é claro, voltar para casa antes de ver Nenhum de Nós, Kid Abelha e Skank. Era o auge do grupo mineiro, a grande atração do festival. Eles fechariam festa.
E lá fomos nós. Não arredamos pé. Passava das 3h30min quando Samuel Rosa cantou a primeira canção, e a catarse coletiva só terminou ao alvorecer, com ele se despedindo com um sonoro “bom dia”. Fernanda e o namorado estavam dormindo no carro quando aparecemos, lépidas, faceiras e embarradas.
Cheguei em casa e fui recebida pela minha tia Nilse Genz, hoje com 91 anos, preocupada com o horário — e com a sujeira dos meus tênis. Nunca vou esquecer daquela cena.
Agora, 27 anos depois, estarei de volta ao festival, a convite da empresa onde trabalho como jornalista (ufa, passei no vestibular!).
Desde então, o Planeta Atlântida, realizado pelo Grupo RBS junto do DC Set Group e de todos os parceiros e apoiadores, se tornou muito mais do que um evento. Virou um acontecimento. Um encontro de gerações. Tornou-se uma marca que se conecta aos gaúchos e, ainda por cima, um negócio bem sucedido, exemplo de que é possível pensar grande e fazer acontecer.
Vinte e sete anos depois, com um novo olhar, numa nova fase da vida, aos 44 anos, voltarei ao Planeta. Estarei hospedada, de novo, na mesma casa alugada pela família. Dessa vez, vou levar comigo a minha prima Laura, que nasceu em 1992 e praticamente cresceu com o festival, criado em 1996.
Hoje, depois de tanto tempo, eu gostaria que aquela adolescente de 17 anos, cheia de dúvidas e medos lá atrás, pudesse ver isso de perto.