Um dos nossos grandes pintores, Iberê Camargo foi, também, um homem apaixonado pela natureza - e um defensor fervoroso do meio ambiente. Agora, a fundação que leva seu nome vai receber especialistas para debater as mudanças climáticas e a busca pelo que se poderia chamar de uma nova consciência ecológica. Nada mais atual. Nada mais Iberê.
Falecido em 1994, aos 79 anos, o artista nunca se definiu como “ativista ambiental”. Na prática, foi mais do que isso.
Ao longo da vida, percorreu o interior do Rio Grande (veja a foto acimda, de 1934, em Jaguari) para retratar paisagens com sensibilidade única. Em palavras, ele também deixou registrada a preocupação com o futuro do planeta: “Me sinto na obrigação de dizer um basta a este extermínio da natureza”, escreveu ele, certa vez, “não por mim, mas pelas novas gerações que virão”.
O pintor viu (e retratou) o que muita gente ainda não vê.
Para debater o assunto, a Fundação Iberê vai sediar, no próximo sábado, das 14h às 18h, um evento gratuito e aberto ao público com nomes de destaque da área - entre eles, Lara Lutzenberger, bióloga, filha do ambientalista José Lutzenberger e líder da Fundação Gaia, e Rualdo Menegat, geólogo à frente do Atlas de Porto Alegre.
O debate será o desdobramento da exposição Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé, em cartaz no local até 18 de fevereiro com 146 trabalhos - entre eles, três guaches da série “Ecológica (Agrotóxicos)”, criada em 1986, com a colaboração da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
Iberê viu o grupo no Parque da Redenção, fazendo uma intervenção cênica chamada "A dúzia suja", em referência aos 12 agrotóxicos mais prejudiciais ao ser humano e à fauna silvestre. Reproduzindo falas de Lutzenberger, o grupo alertava o público para os riscos do uso indevido do produto.
Iberê utilizou sua arte para levar a mensagem adiante. Como dizia o pintor, “vivemos num universo que é o resto de uma grande fogueira, e as estrelas são suas últimas brasas”. Não dá mais para fingir que nada está acontecendo.
O ambientalismo de Iberê em três frases
“O homem é o único animal que destrói sua casa, sem pensar na continuidade da prole. Em nome do consumismo desvairado, o inconsciente coletivo da humanidade encaminha o mundo para o apocalipse.”
"Falo apenas em nome da vida. Neste momento, o mais importante é ser claro, mesmo que repetitivo, para ser compreendido por todos."
"O gato, que é onívoro como homem, sabe exatamente qual a erva que deve comer. Já o homem se envenena. Foi por isso que eu achei que deveria tomar como mestres da minha vida os animais."