Como se esperassem por esse dia, as rosas de Maria Coussirat, eterna companheira de Iberê Camargo, floresceram. O salão onde o célebre artista, falecido em 1994, criou algumas de suas mais importantes obras, no bairro Nonoai, em Porto Alegre, teve a reforma concluída, como a coluna antecipou aqui. Eu estive lá, nesta terça-feira (13), para ver o resultado.
Graças à Fundação Iberê, o ateliê de um dos nossos grandes pintores não só está de pé, como está pronto para se tornar uma residência artística internacional. No pátio, o roseiral de Maria e o pé de lima do artista reluzem no quintal reabilitado. Lá dentro, o prédio foi curado das infiltrações, teve a parte elétrica refeita, recebeu uma nova camada de tinta, polimento no assoalho e muito mais.
No local, ainda estão a prensa que pertenceu ao gênio, sua antiga mesa de pintura e seu cavalete de madeira. Também estão lá velhas caixas um dia usadas por Maria e um quadro trazido da França.
— Ficou muito bom mesmo. Eles mantiveram a ideia original — atestou, aliviado, o arquiteto Emil Bered, que projetou a casa em 1986 e, aos 97 anos, acompanhado das filhas, fez questão de conferir o desfecho pessoalmente.
A reforma teve início no ano passado. Agora, faltam apenas alguns detalhes até a chegada do primeiro artista convidado, de origem francesa - o nome ainda não foi definido.
O que a fundação fez no bairro Nonoai é um bálsamo em uma cidade que tem por hábito destruir seu patrimônio. Basta olhar para o passado recente: em 2022, a casa que um dia pertenceu ao escritor Caio Fernando Abreu, em dos grandes do país, aqui de Porto Alegre, foi demolida sem dó, mesmo diante de protestos.
No caso de Iberê, o trabalho de revitalização está sendo feito aos poucos. Ainda falta reformar a residência do casal em si (o ateliê, agora restaurado, fica nos fundos do terreno). Emilio Kalil, diretor da fundação, e Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho da entidade, seguem firmes no propósito de levar a obra a cabo. Que assim seja.
Quantas vezes viajamos ao Exterior e, lá fora, visitamos com gosto os locais onde viveram nomes geniais? Na Alemanha, visitei a casa de Goethe. Por que não visitaria a casa de Iberê? É essa visão que parece ainda faltar a Porto Alegre. Felizmente, ela não falta a quem recebeu a missão de cuidar do legado desse grande artista brasileiro.