Médico, bibliófilo, escritor, mecenas e dono de um imenso gabinete de curiosidades, o presidente da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Gilberto Schwartsmann, começou a garimpar livros antigos quando ainda era adolescente. E nunca mais parou.
Agora, depois do sucesso da mostra sobre o centenário da morte de Proust, na Capital, ele inaugura uma nova e surpreendente exposição: Babel In(finita), com 300 obras raras, na Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro.
São textos escritos entre os séculos 14 e 19, incluindo as primeiras edições de alguns dos maiores clássicos da literatura ocidental.
A seleção também conta com versões históricas de trabalhos como a Divina Comédia, de Dante, em uma edição de 1879 (pasme: Schwartsmann tem, ao todo, 200 edições da obra!), e Amadis de Gaula, de 1577. Trata-se de uma novela de cavalaria do século 14, popularizada nas décadas seguintes por diferentes autores - como Garci Rodríguez de Montalvo, em língua castelhana, em 1496. Na exposição, há duas edições, dos séculos 16 e 17, ambas preciosidades.
— A mostra está linda, com obras raríssimas. São pelo menos 60 exemplares anteriores a 1800 e muitas primeiras edições, como Ulisses, de James Joyce, Dom Casmurro, de Machado de Assis, Cem anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez, e muitas outras. É algo sem precedentes para os padrões brasileiros — diz Schwartsmann, que também é colecionador de arte e dono de uma erudição sem fim.
Ele conta que começou a se interessar pelo assunto quando tinha entre 15 e 16 anos. À época, passou a frequentar sebos, na Capital, estimulado por uma professora de História chamada Giselda.
— Comecei comprando edições antigas da Divina Comédia e de livros do Erico Verissimo — recorda o oncologista.
Com curadoria de Facundo Sarmiento, a mostra será inaugurada nesta quinta-feira (31), para convidados (entre eles, membros da Academia Brasileira de Letras), e terá um "apresentador" especial: o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), cuja imagem foi reproduzida em tamanho natural para recepcionar os visitantes.
Borges escreveu A biblioteca de Babel, do livro Ficções (1944), que inspirou a exposição. No texto, o autor sugere que o universo é uma biblioteca infindável e aborda uma série de livros, todos presentes no acervo de Schwartsmann.
A exibição - que tem ilustrações da artista plástica gaúcha Zoravia Bettiol - vai até 9 de novembro, com entrada franca.