São Gabriel, na Fronteira Oeste, tem um dos últimos redutos de carreteiros no Rio Grande do Sul - que inclusive foi tema de reportagem especial de GZH, em 2012. O valor histórico e cultural desse meio de transporte, que é um dos mais antigos da humanidade e ainda carrega mercadorias pelo interior do município, será relembrado, nesta sexta-feira (23), na 9ª Carreteada Pedagógica.
A atividade é uma forma de valorizar uma história rica e única, que remete a gaúchos de outros tempos, como os carreteiros da localidade de Pau Fincado, a 56 quilômetros da sede do município. Lá, as carroças puxadas por bois seguem rangendo pelas estradas de terra, como se o tempo tivesse parado.
— Cultuar nossas tradições é valorizar nossa origem como comunidade e nossa história. Se nosso objetivo é avançar como cidade, nunca podemos nos esquecer de onde viemos — diz o prefeito Lucas Menezes.
A 9ª Carreteada Pedagógica será na Escola Municipal de Campo Jerônimo Machado e terá de tudo um pouco: desfile de carretas típicas, missa crioula, feira de produtos artesanais e agrícolas, culinária campeira, apresentações artísticas e até gincana cultural. O evento será aberto ao público. No ano passado, cerca de 300 pessoas participaram da festa.
Reportagem
Em agosto de 2012, uma equipe de GZH, formada pelo repórter Marcelo Gonzatto e pelo fotógrafo Tadeu Vilani, acompanhou um velho carreteiro em São Gabriel, para retratar um meio de vida que ajudou a formar o Estado, mas que hoje está quase esquecido.
Leia a seguir um trecho da reportagem publicada à época e confira algumas das imagens captadas na ocasião:
As últimas carretas de boi cruzam o pampa, carregando a produção de pequenos agricultores como Ireno Aguiar da Costa, 59 anos. Ele partiu na manhã de um domingo, 12 de agosto, rumo ao perímetro urbano de São Gabriel, aonde chegaria três dias depois. A viagem foi acompanhada por Zero Hora e ilustra um meio de vida que ajudou a formar o Estado, mas hoje está quase esquecido.
Desde as origens da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul até a chegada do trem e do automóvel, o Estado andou a reboque dos carros de boi. As carretas riscaram os primeiros caminhos do pampa, ajudaram a fundar cidades e abastecer bolichos. Transportaram mantimentos em tempos de paz, armas em períodos de guerra, sempre ao passo vagaroso do gado. Hoje, um dos mais tradicionais meios de locomoção do gaúcho está em extinção.
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Já somaram centenas na região, e trilhavam o caminho entre os grotões pampianos e a cidade em comboios de até 10, 15 carretas. As longas filas de juntas de bois e o burburinho festivo dos acampamentos à beira da estrada deram lugar a viagens solitárias e esporádicas dos últimos herdeiros de uma tradição milenar - que remonta a sociedades anteriores a Cristo, a egípcios, a gregos e romanos, todos hábeis tocadores de carros de boi.
Em solo gaúcho, as razões para o abandono da carreta incluem a lentidão do gado e as agruras da viagem, que sujeitam o condutor a intempéries, a dormir e comer ao relento, sem banho ou troca de roupa.
Para documentar os estertores de um ofício que ajudou a construir o Rio Grande, Zero Hora acompanhou a jornada de um dos últimos gaúchos que ainda se submetem a uma dura rotina que já foi regra, mas hoje assume ares de heroísmo em plena era digital, veículos velozes e comodidades modernas. Para percorrer 55 quilômetros, foram necessários três dias e duas noites de incursão no pampa, contando com o auxílio de moradores da região.