O lugar que José Lutzenberger - um dos nossos grandes ambientalistas, falecido em 2002 - transformou em refúgio, santuário e exemplo de cuidado com a natureza virou tema de filme. "Sociedade Regenerativa" estreia na próxima terça-feira (20), às 19h, com entrada franca, na Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre.
A sessão terá a presença da equipe de filmagem e de dois depoentes: Lara Lutzenberger, filha de Lutz e bióloga, e Rualdo Menegat, geólogo e professor da UFRGS.
Com direção de Pedro Zimmermann e produção de Aletéia Selonk, o média-metragem - que também tem depoimentos do líder indígena Ailton Krenak e do escritor e biólogo moçambicano Mia Couto -, conta a história do Rincão Gaia, em Rio Pardo, a cerca de 150 quilômetros da Capital.
Erguida na área de uma antiga pedreira, a propriedade é o fio condutor de uma série de reflexões sobre a relação entre humanos e meio ambiente. É uma aula de respeito e de humildade, em que a Terra é tratada como um organismo vivo e único.
— Foi uma honra enorme estar ao lado de Rualdo, Ailton e Mia Couto, buscando contribuir junto a eles nesse desafio tão vital para todos nós de constituirmos sociedades mais íntegras e regenerativas — destaca Lara.
Em tempos de emergência climática e de negação crônica dos efeitos do aquecimento global, Lutz e sua verve fazem falta.
Escolas
Após a sessão de lançamento, o filme será exibido em escolas e instituições sensíveis à educação ambiental. Nos próximos meses, também deverá se agregar à grade de programação de canais de TV e streaming.
Apoiadores
O projeto obteve financiamento por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e é uma realização do Ministério da Cultura e da Okna Produções, com parceria do Fronteiras do Pensamento e patrocínio da Braskem e da Rio Grande Seguros.
Trechos de depoimentos dos entrevistados
Lara Lutzenberger, bióloga e filha de José Lutzenberger
“Era uma terra quase arrasada, pode-se dizer. Aí que meu pai (José Lutzenberger) identificou a oportunidade de transformar esse lugar em um exemplo emblemático de tudo aquilo que ele defendia, que era a convivência harmônica com a natureza. Esse exemplo se tornava tanto mais forte no momento em que ele se propôs a estabelecer aqui um processo literalmente de regeneração, uma recuperação que parte do diálogo do homem com a natureza.”
Rualdo Menegat, geólogo e professor da UFRGS
“José Lutzenberger foi um dos primeiros divulgadores da Teoria de Gaia no Brasil. Hoje ela tem uma outra dimensão. Para nós, na América do Sul, é uma teoria muito interessante porque os ameríndios dos Andes chamam a terra de Pachamama. E ela tem um sentido enorme aqui porque nossa natureza é muito exuberante. Há aqui dois fenômenos maravilhosos combinados, a Amazônia e os Andes.”
Ailton Krenak, líder indígena
“Algumas pessoas indígenas e não indígenas me ajudaram a ir compondo uma certa compreensão disso que hoje chamamos de meio ambiente. (…) Foi por essa época (início da década de 1990) que eu conheci uma pessoa muito interessante chamada José Lutzenberger. O professor José Lutzenberger se engajou em um processo de denunciar a violência contra as comunidades indígenas e a floresta. A gente acabou fazendo uma viagem juntos para os Estados Unidos para denunciar o fato de o Banco Mundial estar financiando a destruição da floresta amazônica.”
Mia Couto, escritor e biólogo moçambicano
“Olhamos para a terra, a floresta e os animais como algo que está à nossa disposição. Não são nossos parentes. Para nós, isso já não é uma visão mítica. Visão mítica seria a que os chamados indígenas têm quando olham para um rio e sabem que ele é seu parente. Nesse aspecto, a Biologia para mim foi confirmar isso. Hoje olho para uma árvore ou um inseto e os vejo como parentes. O que eu quero que a Biologia me devolva é essa proximidade com eles.”