O reconhecimento às vezes demora, mas vem. Pioneira na luta que inaugurou o debate ambiental no Rio Grande do Sul, quando a palavra "ecologia" ainda era pouco falada e conhecida, Giselda Escosteguy Castro vai virar nome de rua.
A placa será descerrada nesta quinta-feira (8), às 11h, no bairro Lageado, zona sul de Porto Alegre, por iniciativa do vereador Carlos Comassetto, autor da homenagem. Mas o que importa mesmo não é a placa - ainda mais quando se sabe que há tantos nomes de rua que nada dizem ou, pior, que celebram gente que deveria ser esquecida.
O que vale é a história por trás do tributo, de uma mulher que, muito antes de a emergência climática tomar um caminho sem volta, já alertava para as consequências do ocaso ambiental.
Falecida em 2012, aos 89 anos, a ambientalista nascida em Santana do Livramento foi pioneira em muitos sentidos. A jornada de Giselda, trilhada a partir dos 41 anos de idade e com três filhos, sintetiza o caminho percorrido por muitas senhoras da sociedade porto-alegrense que deixaram o conforto do lar para se dedicar a um trabalho voluntário - no caso dela, um trabalho que desafiou o regime de exceção da época (foi inclusive fichada e observada de perto pelos órgãos de segurança da ditadura).
Ao lado de gente como Magda Renner, Hilda Zimmermann e José Lutzenberger, Giselda cerrou fileiras em protestos e discussões nos anos de 1970 e 1980. Também foi uma das fundadoras da Ação Democrática Feminina Gaúcha, que depois se tornaria Núcleo Amigos da Terra Brasil.
Ela defendeu a Amazônia, o Pantanal, lutou pela preservação dos morros de Porto Alegre e contribuiu para o projeto Guaíba Vive. Quando os movimentos ambientalistas ganharam o mundo, a gaúcha participou de conferências fora do país, inclusive na ONU, e foi às ruas com ativistas da International Rivers Network, entidade de proteção de rios, fundada em 1985 nos Estados Unidos.
Virar nome de placa só faz sentido, se o legado é consistente. E o de Giselda é.