Certa vez, em uma viagem ao Exterior, o escritor Erico Verissimo foi questionado sobre o lugar onde vivia: “Como é Porto Alegre?”, quis saber um interlocutor curioso. O autor de O Tempo e o Vento pensou por alguns segundos e disse que vinha de uma cidade onde havia uma orquestra sinfônica.
Verissimo falava, é claro, da Ospa. Era o que bastava. Hoje, a resposta poderia ser ampliada.
— Venho de uma cidade onde existem uma orquestra sinfônica, uma companhia de ópera e muitos palcos — diria o literato.
O mais novo deles foi inaugurado na noite desta segunda-feira (27), não por acaso Dia Mundial do Teatro, em uma solenidade cheia de significados.
Depois de uma espera de 20 anos, Porto Alegre e o Rio Grande do Sul ganharam o Teatro Oficina Olga Reverbel, que nasceu do sonho de uma mulher de fibra chamada Eva Sopher.
Engenhosa, ela costumava distribuir bilhetinhos nos bolsos de empresários e autoridades, pedindo ajuda para a sonhada obra do complexo cultural Multipalco, erguido nas entranhas do Theatro São Pedro. Dona Eva jamais desistiu da luta, apesar dos pesares, apesar dos reveses, que não foram poucos.
A senhorinha de cabelos brancos e personalidade forte partiu em 2018, aos 94 anos, sem ver a obra concluída, mas, na noite de segunda-feira, ela certamente estava lá.
— Sinto a presença dela em cada cantinho — confidenciou-me uma de suas filhas, Renata Rubim.
Graças ao empenho de Eva, da fundação e da associação de amigos do Theatro São Pedro, às doações de empresas e de pessoas físicas e à injeção inédita de recursos estaduais, determinada pelo governador Eduardo Leite, o sonho começa a virar realidade - sonho, aliás, definido como "loucura utópica" por um emocionado Antônio Hohlfeldt, sucessor de Eva na empreitada.
O Multipalco ainda não está concluído, mas, finalmente, o projeto está andando. Quem ganha com isso somos todos nós. Como Verissimo sabia muito bem, uma grande cidade que quer ser reconhecida como tal deve saber valorizar a arte e a cultura.
De algum lugar, Dona Eva sorri.
Homenagem
O nome do novo teatro foi escolhido por votação popular. Ganhou Olga Reverbel, expoente das artes no Rio Grande do Sul, que uniu o teatro e a educação. Nascida em São Borja, Olga faleceu em 2008, deixando um grande legado como professora e teórica. Lecionou por anos na UFRGS, formando gerações.
Os primeiros
Sabe quem primeiro teve a honra de assistir a um espetáculo no Teatro Oficina Olga Reverbel? Os operários que construíram o espaço. Na última sexta-feira (24), eles foram os convidados especiais em um show da família Fagundes no local. Nada mais significativo.
Marcos Breda
Na inauguração oficial para convidados, na noite desta segunda-feira (27), coube ao ator Marcos Breda a missão de encenar a primeira peça do local: O Homem e a Mancha, de Caio Fernando Abreu, com direção de Aimar Labaki.
A nova versão da obra soube aproveitar bem uma das principais características do novo palco - a versatilidade. Como o local não tem cadeiras fixas, tudo é possível. Nesse caso, a atuação irreparável de Breda interagiu com múltiplas projeções, com o palco no meio da plateia.