O jornalista Caio Cigana colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço
Chegou à terceira edição este ano o Índice de Qualidade das Elites, coordenado pelos economistas Guido Cozzi e Tomas Casas, vinculados à Fundação para a Criação de Valor, sediada na Suíça. O objetivo do trabalho é medir o quanto as elites dos países geram benefícios à sociedade e, no sentido inverso, tiram proveito da coletividade e do Estado e auferem ganhos para si. A situação brasileira está longe de ser das melhores. O conceito de elite, no caso, é o de pequenos grupos com poder de influência política, econômica ou de conhecimento.
Elites de alta qualidade são as que, com a sua atuação, mais criam e devolvem valor do que capturam vantagens. Assim, contribuem para o crescimento econômico e o desenvolvimento humano. As de baixa qualidade fazem o oposto. São extrativas. Ou seja, concentradoras de riqueza. No ranking, liderado Singapura, Suíça e Austrália, o Brasil é o 81º colocado entre 151 países. Na América Latina, está à frente de Argentina e Venezuela, mas é superado por Chile, Panamá, Cuba, Uruguai, Republica Dominicana, México, Paraguai e Colômbia, por exemplo. O país se situa no nível médio de qualidade (o terceiro nível, entre quatro classificações), mas no balanço entre criação e extração de valor, a elite nacional mais tira do que transfere para a sociedade.
Essas transferências podem ser feitas de diversas formas. Via decisões políticas, deliberações regulatórias, subsídios a determinados setores, medidas que geram inflação, pressão econômica e regras para o mercado de trabalho e privilégios do emprego público para assegurar ganhos. A continuidade desse modelo, advertem os autores do trabalho, também ligados à universidade suíça de St. Gallen, tende a gerar descontentamento social e protestos.
Um exemplo fresquinho de como essa extração pode seguir a ocorrer é a chamada PEC do Quinquênio, que garante acréscimo de 5% a cada cinco anos nos salários de juízes e procuradores federais. Apenas o cálculo retroativo dos últimos 16 anos indica que cada beneficiado amealharia uma bolada de R$ 2 milhões. Uma penduricalho que, por certo, será reivindicado pelas demais carreiras públicas da área jurídica. A votação da proposta, apoiada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ocorreria na semana passada na Casa, mas acabou adiada, por falta de acordo.
Os cinco melhores no ranking
Singapura
Suíça
Austrália
Israel
Países Baixos
Os últimos no índice
Iêmen
Síria
Iraque
Líbia
Sudão