Em meio a toda aquela confusão das eleições, no último fim de semana, decidi parar tudo e repetir um ritual que faço desde que vim morar na Capital, no fim dos anos de 1990: percorrer a Praça da Alfândega sem rumo, a passos lentos, para ver a vida passar na Feira do Livro de Porto Alegre.
Depois de dois anos de pandemia, o evento está tinindo. Foi reconfortante observar as pessoas circulando entre as bancas e compartilhando o interesse pela literatura. Vi gente com grana e com dinheiro contado dividindo o mesmo espaço entre os estandes, folheando livros, comendo pipoca, rindo, descansando nos bancos de madeira. Convivendo em paz, enfim.
A praça está bem cuidada, com jardins aparados e floridos, emoldurados por todas aquelas árvores, com destaque para belos jacarandás e guapuruvus. É um oásis no centro urbano, em todos os sentidos.
Viver a feira é viver o que Porto Alegre tem de melhor - essa coisa de cidade grande com ares provincianos tão própria da nossa Capital. Há algo disso lá, no calçamento de pedras portuguesas, nos charmosos postes de luz fabricados em 1929 e nos aposentados jogando damas.
O encontro literário surgiu em 1955 e, de alguma forma, ainda remonta ao passado áureo, quando a zona central era ponto de encontro do famoso "footing" (sabe o que é isso?), ladeado pelas vitrines iluminadas das grandes magazines e pelos cartazes do Cine Imperial.
Esse tempo se foi, mas a região vive um momento de retomada, e a feira, claro, faz parte disso. Se estiver por perto, passe lá. O evento segue até 15 de novembro.