Terra de pecuaristas e de grandes produtores agrícolas, o Pampa está se diversificando. Em fazendas centenárias, os parreirais a perder de vista já fazem da região a segunda maior produtora de vinhos do Brasil - atrás apenas da Serra. Um dos nomes à frente desse movimento é um português com sotaque de Lisboa
Presidente da Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha, Pedro Candelária adotou o Rio Grande do Sul como lar em 2012. Veio por amor, depois de se casar com Manuela Ayub, uma das sócias da Vinícola Campos de Cima, em Itaqui, na fronteira com a Argentina.
De Portugal, trouxe a experiência comercial (após anos de atuação em uma empresa de tecnologia) e o gosto pela bebida derivada da uva - seus avós eram donos de vinhedos no Douro e nos Açores. Ao ver as coxilhas sulinas pontilhadas de videiras, Pedro se reencontrou.
Hoje, o executivo lidera uma entidade que representa 20 vinícolas, responsáveis pela produção de 10 milhões de garrafas por ano. A região tem cerca de 500 quilômetros de ponta a ponta (quase o território de Portugal) e vive um momento de expansão.
— A distância nos fez, curiosamente, mais próximos. Sabíamos que só teríamos força se estivéssemos unidos. Está dando certo — diz o presidente.
Desde 2020, graças ao esforço conjunto, os vinhos da Campanha têm indicação de procedência (um importante reconhecimento de qualidade) e já são exportados para 30 países. Há algo especial neles.
— Vinho é geografia. É a região de onde vem. Quando bebemos uma taça, de certa forma, bebemos o terroir. O clima, o solo, as pessoas, a cultura, está tudo ali. E a Campanha é uma região única. Não tem nada igual no mundo — resume Pedro.
Os vinhos da Campanha
- 10 mil toneladas de uva colhidas por ano
- 10 milhões de garrafas de vinho produzidas anualmente
- 20 vinícolas instaladas na região
- 1,6 mil hectares de videiras (o equivalente a 1,6 mil campos de futebol)
- Brasil, Reino Unido, EUA e China são os principais compradores
O que os diferencia
Na época da vindima (safra), entre janeiro e abril, o clima na região costuma ser quente e seco - ao contrário da Serra, onde tende a ser mais úmido, o que favorece, em especial, as uvas brancas e explica, em parte, o altíssimo nível do espumante regional. No caso da Campanha, a especificidade climática beneficia principalmente a maturação das uvas tintas. Isso resulta em vinhos em geral mais estruturados e encorpados, que, aliás, vão muito bem com carnes.
A expansão vitivinícola na região
Diferentemente da Serra, que começou a fazer vinho no fim do século 19, com a chegada dos imigrantes italianos, a produção na Campanha é mais recente. A maioria dos vinhedos (foto) começou a ser cultivada nos anos 2000 (com exceção da Almadén, pioneira na década de 1970).
— Essa é a história de 99% das vinícolas da região. Grande parte dos rótulos está no mercado há não mais do que 15 anos — diz Pedro Candelária.
O trabalho é fruto de planejamento e de investimento em alta tecnologia. As áreas nas propriedades foram escolhidas a dedo (após análises de solo), e as variedades de uva foram testadas até que se chegasse às cepas mais bem adaptadas.
O processo segue em expansão, inclusive com a chegada de empresas tradicionais da Serra, por uma série de razões - entre elas, a ampla oferta e o custo mais baixo das terras.