Sentimento de dever cumprido, esgotamento físico e mental e preocupação com a mãe, que já é idosa, viúva e mora no Rio de Janeiro, foram os elementos que pesaram na decisão de Marco Aurelio Cardoso. Responsável por devolver o equilíbrio às contas do Estado do Rio Grande do Sul desde 2021, após 12 anos consecutivos no vermelho, o economista anunciou a saída do comando da Secretaria Estadual da Fazenda na última terça-feira (2). Os colegas já sabiam.
Conhecido e respeitado pela capacidade descomunal de trabalho, Cardoso praticamente havia se mudado para dentro da sede da Fazenda, no centro de Porto Alegre. Desde 2019, quando deixou o Rio e passou a viver na Capital, chegou a virar noites no prédio da Avenida Mauá, debruçado sobre os números - e sem café, bebida que não aprecia.
De perfil técnico e reservado, Cardoso teve papel fundamental na elaboração das reformas aprovadas pela Assembleia Legislativa em 2019 e 2020, na regularização dos pagamentos do governo e na adesão ao regime de recuperação fiscal (RRF). Foram três anos e oito meses sob pressão contínua.
— É um cara fora de série e trabalha como ninguém, mas cansou. Chegou ao limite — conta um auditor da Fazenda que acompanhou Cardoso desde o início e lamenta a saída do chefe.
Não foi só isso. Ainda no início da gestão, o então secretário perdeu o pai. A mãe passou a ser cuidada pelo irmão, e Cardoso fez o que pode para ajudar. Vivia na ponte aérea POA-RJ, em uma rotina extenuante.
Quando finalmente executou os objetivos com os quais se comprometeu ao assumir o cargo, decidiu que estava na hora de voltar para casa, para cuidar de si e da família.
— O fato de termos cumprido o que estava vislumbrado me permite dedicar um tempo à minha mãe, ao meu irmão e a outros familiares que eu não pude nesses anos. Preciso reorganizar minha casa também. Foi tudo intenso e não sobrou tempo pra quase nada mais. Tenho um orgulho imenso e conheci gente incrível. Eu aceitei vir na intuição. Estava certo — conclui Cardoso.
Como não tirou férias em 2021 e 2022, o economista planeja uma pausa pelos próximos 60 dias, para só então retornar às funções no BNDES, onde era superintendente de crédito até se licenciar para vir ao Rio Grande do Sul. Voltará mudado, inclusive no vocabulário. Não chega a falar "tchê", mas, de vez em quando, deixa escapar um sonoro "capaz".