Velho conhecido de quem aprecia a música regional feita com esmero nas bandas do Rio Grande, ele agora abre o fole e despeja o talento no além-mar. À beira do rio Tejo, em Lisboa, o pelotense Luciano Maia, 41 anos, dá novos tons ao acordeon Scandalli Super VI que carrega consigo - e que um dia pertenceu ao maestro Tasso Bangel, fundador do saudoso Conjunto Farroupilha. Sem esquecer de onde veio, Luciano finca raízes em terras portuguesas e trilha novos e surpreendentes caminhos.
Nos braços do experiente acordeonista, a gaita não aparenta pesar 12 quilos. Os dedos percorrem certeiros e ágeis 41 teclas e 120 baixos. Mas há algo diferente ali.
No repertório, estão o fado, o jazz, o choro, o samba, o maxixe. Estão Amália Rodrigues e Pixinguinha. Carlos do Carmo e Jacob do Bandolim. Dulce Pontes e Dominguinhos.
Desde que se mudou de mala e cuia para a capital lusa, em um simbólico 20 de setembro de 2021, Luciano redescobriu-se como instrumentista brasileiro.
— Carrego e sempre vou carregar uma identificação muito forte com a música gaúcha, mas a vida é movimento. A chegada a Lisboa, que planejei por cinco anos, abriu novas perspectivas. Estou fazendo coisas que nunca tive a oportunidade de fazer no Brasil — conta o compositor, que divide a experiência com Thaís, companheira de vida, e a filha Cecília.
Depois de uma turnê com a fadista Cuca Roseta, de ministrar um curso de música em Saint-Étienne, na França, e de lançar um punhado de singles e vídeo-aulas, Luciano prepara um novo disco e uma série de projetos. Entre eles, estão três concertos, em outubro, nas Ilhas Canárias e no Algarve, tocando - veja só - Caetano Veloso.
— É um recomeço. Tudo novo, de novo — brinca o gaiteiro.
Mate e churrasco não podem faltar
Enquanto se aventura em novas sonoridades, Luciano não abre mão de duas tradições gaúchas: o mate e o churrasco.
Quanto ao chimarrão, ele logo descobriu onde comprar erva em Lisboa e, volta e meia, desfila com a cuia pela cidade.
Mas e o assado? A salvação tem sido o amigo e músico Yamandu Costa, que também vive em Lisboa e instalou, em sua casa, uma grelha espanhola de ferro fundido. Mesmo longe, a gauchada não se mixa.