Pelo volume de informações e o modo como estão reunidas, o livro parece ter 500 páginas, que se lê como fossem apenas 150. E são 150! Falo de A Música no Brasil que Você Toca, de Edson Natale. Ele desenvolveu um formato de pesquisa para sintetizar a história da música em particular, da cultura em geral, da própria história do Brasil.
Por exemplo, fazendo eu cá um resumo do resumo, em um capítulo Natale parte da Guerra do Paraguai, chega a Chiquinha Gonzaga, Inezita Barroso, a Segunda Guerra, o músico Tenório Jr. (assassinado pela ditadura argentina). Em outro, de Santos Dumont chega ao bombardeio aéreo de São Paulo em 1924, a Agostinho dos Santos, ao novato Milton Nascimento, à cantora lírica negra Maria d’Apparecida, a Tony Tornado, os festivais de música, a censura....
Entre tantos, o leitor encontra os porto-alegrenses Padre Landell de Moura (inventor do rádio) e Joanídia Sodré (primeira mulher latino-americana a reger a Filarmônica de Berlim, 1930). E Bidu Sayão, Pixinguinha, Moacir Santos, Paulo Freire (o violeiro), Raul de Barros, Maurício Pereira, a Revolta da Chibata, a Coluna Prestes, a primeira gravadora, a Vanguarda Paulista etc. etc. São 11 capítulos envolvendo centenas de personagens, figurantes e situações, do Acre ao RS, dando a Natale argumentos para falar também de machismo, racismo, autoritarismo, xenofobia, genocídio indígena... Acho que deu pra entender que uma história emenda em outra, que leva a outra, em perfeito encadeamento. É ainda um livro generoso, emocionado e emocionante.
Músico e pesquisador com vários discos desde 1990, coautor do Guia Brasileiro de Produção Cultural, Edson Natale foi durante 20 anos gerente do núcleo de música do Itaú Cultural. (A Música no Brasil que Você Toca, Editora Paraquedas, 150 páginas, R$ 60).
Dois violões no ápice de Mehmari
Em que momento as músicas erudita e popular se encontram tornando-se uma só? O disco Dois Violões em Concerto, do Duo Siqueira Lima com a Orquestra GRU Sinfônica, responde a essa questão, interpretando a inédita Portais Brasileiros 4 – A Saga dos Violões, de André Mehmari, e o Concerto nº 3 para dois violões, de Radamés Gnattali. É um trabalho extraordinário, registrando talvez o ápice da carreira de Mehmari, pianista e compositor de exceção. Reconhecido internacionalmente, o duo de violões formado por Cecília Siqueira e Fernando de Lima se encaixa à perfeição na sonoridade vibrante, intensa, encantadora, da orquestra de 26 músicos formada em Guarulhos e regida pelo maestro Emiliano Patarra. Para mim, um dos discos do ano. (ProacSP, R$ 40 em Loja Clássicos, também nas plataformas digitais).
Para crianças de todas as idades
A relevância da Orquestra Modesta, formada por cinco palhaços-músicos, é reconhecida desde a apresentação deste segundo álbum, Canções para Pequenos Ouvidos 2, CD em formato de livro, com capa dura e 36 páginas! Formada em São Paulo em 2015, a trupe lançou o primeiro disco em 2018 e de lá para cá faz sucesso direto entre as crianças. "O novo álbum é uma reverência à diversidade”, diz Fernando Escrich, o Maestro Sandoval. Sem perder a graça, a música infantil é tratada como um tema sério, com consciência social e ecológica. Tem jazz, samba, frevo, marchinha, rock. Trecho de uma letra: “Pra que ficar perdendo o nosso tempo/ Dividindo todo mundo eu pra lá você pra cá?”. E por aí vão, provocando, os palhaços e palhaças Clóvis, Caçarola, Brocolino e Guadalupe. Música para crianças de todas as idades. (Selo Sesc, R$ 35, também nas plataformas)