Porto-alegrense radicado no Rio de Janeiro há 20 anos, em seu terceiro disco, Afro-Gaúcho, Marcelo Amaro une e homenageia essas duas fontes. Mas como antecipa o título, as 10 faixas remetem principalmente às suas origens no Rio Grande do Sul.
Sambista "por vocação", batuqueiro, cantor, compositor, percussionista e educador musical, Amaro traz aqui um trabalho de alta voltagem rítmica, com vários parceiros e esmerada produção. Para sublinhar seu cacife, o samba Descendo por Santa Teresa tem a participação de, "apenas", João Donato!
A faixa de abertura, Meu Canto Banto, é assinada por Mestre Paraquedas, nome mitológico do samba, do Carnaval e da negritude de Porto Alegre. Também dele é o samba Afro-Sul, que vem antes da faixa-título final. De Amaro, Dona Conceição e Mamau de Castro, Afro-Gaúcho começa com um tambor, depois entra acordeão, a letra vai cantando o Negrinho do Pastoreio, Morro Alto (no Litoral, um dos primeiros quilombos), "milonga de preto", "Oliveira poeta guerreiro" (referência a Oliveira Silveira, 1941-2009), até desaguar em um sambão.
Marcelo Amaro conta que a ideia do álbum, exaltando a negritude, amadureceu com a leitura do livro Negros no Sul do País – Invisibilidade e Territorialidade (coletânea organizada em 1996 pela professora catarinense Ilka Boaventura Leite). "Resolvi mesclar diálogos de sotaques sonoros tendo a instrumentação do samba carioca de raiz como base", conta. Além de cantar muito bem, com timbre próprio, Amaro tem vocação de liderança, como mostra o time de ótimos instrumentistas que reuniu. Ou seja: tudo para entrar no time do sambista e historiador Nei Lopes.
AFRO-GAÚCHO, de Marcelo Amaro
- Independente, CD R$ 19,90 nas redes sociais do artista e em marceloamaro.com.br. Disponível nas plataformas digitais a partir de 5 de fevereiro
Antena
CANÇÕES DE AMORES PAULISTAS, Alaíde Costa canta Eduardo Santhana
Com 86 anos de idade, em ação desde a virada de 1950/60 (quando estava na primeira turma bossa-novista), Alaíde não perde a chama. Em 2021, lançou dois discos: um com apresentações feitas nos anos 1970, Antes e Depois, e este inédito, com canções do compositor, cantor e violonista Eduardo Santhana, conhecido também por integrar o grupo Trovadores Urbanos.
Produzido por ele e pelo pianista Michel Freidenson, com a presença de outros grandes instrumentistas (Teco Cardoso, Adriana Holtz, Lulinha Alencar, Sylvinho Mazzucca, Duda Neves), em clima de música de câmara, o álbum certamente encantará os fãs de Alaíde, cuja voz não envelhece — e também os que gostam de música boa.
- ProacSP, MCK Discos, CD R$ 30. Disponível nas plataformas digitais
THE FISHERMAN, de Humberto Zigler
Embora nascido no RS, foi em Florianópolis que Zigler começou o rumo de baterista, até se mudar para São Paulo em 1999. Aluno de Kiko Freitas, logo estava tocando com grandes da MPB. Este primeiro disco em 30 anos de carreira mescla variadas informações, em maioria sintetizadas pelo jazz. Do maculelê brasileiro, vai para o mardi gras de New Orleans e chega às sonoridades da música árabe.
Recheado de músicos como o paulista Ricardo Vignini (viola), o gaúcho Luciano Leães (hammond) e o americano Tom Worrel (piano), mesmo tendo duas músicas cantadas é um álbum instrumental de primeira linha, com forte marca percussiva. Ao lado de músicas de Zigler tem Hermeto, Milton Nascimento e mais.
- Kuarup Discos, CD R$ 30. Disponível nas plataformas digitais