Quando João Gilberto morreu, em 6 de julho de 2019, Zuza Homem de Mello decidiu que chegara a hora de escrever sua biografia. Em 2001 ele já publicara um pequeno volume biográfico na coleção Folha Explica, mas o material que acumulava, desde que ouviu no rádio do carro pela primeira vez aquela voz, em 1958, era imenso. Passou aí a fazer dezenas de entrevistas focadas no objetivo. Reouviu e reouviu todos os discos que já conhecia de cor. Escreveu obsessivamente durante mais de um ano.
E assim surgiu Amoroso – Uma Biografia de João Gilberto, concluída por Zuza cinco dias antes de morrer feliz e dormindo, na noite de 4 de outubro de 2020, aos 87 anos. Paulista do mundo, ex-contrabaixista de jazz, jornalista, crítico de música, musicólogo, escritor, além deste livro definitivo sobre seu ídolo Zuza já tinha uma obra impressionante, publicada dos anos 1990 para cá – A Canção no Tempo, A Era dos Festivais, Música nas Veias, Música com Z, Copacabana...
Sua relação com o músico e violonista, que considerava o verdadeiro inventor da bossa nova, era antiga. Costumavam atravessar madrugadas ao telefone em conversas que gravava sem que João soubesse. Escrito na primeira pessoa, em tom de admirador, e com miríades de referências sobre a música em geral, Amoroso conta em minúcias a história que começa em Juazeiro e chega ao fim, melancolicamente, no Rio de Janeiro. Mas não espere as conhecidas “anedotas” sobre as “esquisitices” de João.
O quarto capítulo é dedicado aos sete ou oito meses que “Joãozinho” viveu em Porto Alegre, antes de se tornar João Gilberto. Quando esteve na cidade em 2019, participando do POA Jazz Festival, Zuza procurou saber todo o possível sobre aquele período. E formula a tese de que a harmonia, essencial na revolução ocasionada pela música de João, foi descoberta em Porto Alegre nos encontros com o pianista e compositor erudito Armando Albuquerque – pois de ritmo e melodia ele já sabia tudo.
Em cada página, amorosamente, Zuza desdobra o significado de João. Um grande escreve sobre um grande.
AMOROSO – UMA BIOGRAFIA DE JOÃO GILBERTO, de Zuza Homem de Mello.
- Companhia das Letras, 324 páginas, R$ 72.
Antena
JÚPITER MAÇÃ – A EFERVESCENTE VIDA E OBRA, de Cristiano Bastos e Pedro Brant
Cristiano Bastos não ficou satisfeito com o “fim” da edição original de sua biografia de Flávio Basso (1968-2015), que em 2018 teve logo esgotada a tiragem de 500 exemplares da finada Plus Editora. Decidiu investir nesta segunda edição, com financiamento coletivo. O texto recebeu pequenas alterações, mas a edição, com projeto gráfico de Rafael Cony, é outra história. São 70 páginas mais, muitas fotos e uma atração de leitura muito maior. Ficou um livro de nível mundial, à altura das biografias de astros do rock. É isso aí, Cristiano, segue em tua brilhante trilha de historiador da música. A bio de Nelson Gonçalves também pede reedição.
Carne Nova Livros, 496 páginas, R$ 115 pelo e-mail carnenovalivros@gmail.com.
LÁ VÊM OS VIOLADOS, de José Teles
Lembro de Gilberto Gil, chegado havia pouco do exílio e falando com entusiasmo da última novidade do Nordeste: o Quinteto Violado. Pois em 2021 comemoram-se 50 anos da estreia do grupo que deu nova dimensão à música nordestina e, em 2022, os 50 do lançamento do primeiro disco. Esses são os motivos do novo livro do jornalista e crítico de música pernambucano José Teles, autor de biografias de Luiz Gonzaga e de Chico Science, entre outras. A narrativa detalha a trajetória artística do Quinteto que, diz ele, “durante algum tempo foi um óvni no universo da MPB”, pois era uma música de difícil decodificação, meio nordestina, meio MPB, meio pop.
Cepe Editora, 242 páginas, R$ 50 em