Arrisco dizer que Flachianas, do Cristian Sperandir Grupo, já nasce um álbum histórico. Produzido para marcar os 10 anos da morte de Geraldo Flach (1945-2011), é a melhor homenagem que o grande pianista, compositor e arranjador porto-alegrense poderia receber. Porque embora não o tenha conhecido pessoalmente, Cristian acompanhava sua música desde a adolescência, sonhando em um dia ser como ele. Sem nunca ter abandonado o espírito de Flach, o precoce Cristian tornou-se uma das grandes revelações da música instrumental criada no RS.
Em Flachianas estão nove músicas compostas por Flach em várias épocas. A mais antiga é Um Novo Rumo, parceria com Arthur Verocai e cantada por Elis Regina em um festival universitário em 1968, aqui na voz de Paola Kirst. Rancheirinha, que talvez seja a mais conhecida, tem duas versões: instrumental e com bela letra de Jerônimo Jardim na voz de Shana Müller. Também bastante conhecida é a que abre o disco, Voo da Águia. Entre as outras, Choro da Alma e Reencontro, esta com a participação do neto Lorenzo Flach na guitarra.
O piano de Cristian é limpo, multicolorido. Uma das surpresas do disco é ele cantando, timbre muito pessoal para marcar Cão Vadio, igualmente bem conhecida, com vigorosa letra de Luiz Coronel. Integradíssimo, o grupo de músicos sublinha o talento de Cristian também como arranjador. Tem Antônio Flores nas guitarras e violões, Caio Maurente nos contrabaixos, Bruno Coelho na percussão e Sandro Bonato na bateria. “Sou só gratidão pelo aprendizado e as oportunidades que a música de Geraldo me deu”, diz Cristian.
FLACHIANAS, de Cristian Sperandir
- Produção de Lia Magali Zanini, Ângela Flach, Laura Dalmás e Roni Barboza. Álbuns físico e digital R$ 35 em geraldoflach.com.br
A superação de Bebeto Alves
Como não já precisa provar nada para ninguém, dono de um formidável trabalho registrado em 30 discos desde 1978, Bebeto Alves parece agora querer provar algo para si mesmo. Pelo menos é assim que ele me faz ouvir Contraluz, álbum produzido durante a pandemia. É uma espécie de síntese do que já fez, mas elevada a uma potência rara de se encontrar em um compositor de tão larga trajetória. São 10 canções de letras marcantes, interpretadas com impressionante sinceridade emocional. E pasme: ele tocou, cantou e gravou tudo sozinho no estúdio caseiro – um jeito encontrado, como diz Jimi Joe, de “driblar a prisão domiciliar sanitária”. Dez canções inéditas, seis com parceiros.
Tudo começa com o doce-amargo de Contraluz, balada de clima folk. E chega ao fim com a ruidosa Aroma Perdido, sobre poema do falecido Cao Trein, em que milonga e música árabe se atraem. Há outras milongas, como Desconversa (com Carlos Caramez) e Beat (letra em espanhol do uruguaio Atilio Perez Acunha). Mas a genética pop de Bebeto está por todo lado. Preciso Encontrar é um rock com a força do clássico Pegadas, e direito a preciso solo de guitarra. A marca instrumental do álbum são os violões, o que não impede o brilho de Bebeto nos outros instrumentos, soando como ótima banda.
CONTRALUZ, de Bebeto Alves
- Selo Produto Oficial, de R$ 50 (álbum digital) a R$ 100 (CD + digital e brindes), à venda em bit.ly/clubebebetoalves