Amaro Freitas já começou por cima. Bastou um disco, o primeiro, Sangue Negro, lançado em 2016, para que ele chamasse a atenção do mundo do jazz e desse início à conquista de espaços internacionais. Dois anos depois veio o segundo, Rasif, e a surpresa com aquele jovem pianista brasileiro redobrou, deixando de boca aberta os críticos da revista Down Beat, considerada “a bíblia do jazz”. Pois agora, com o lançamento de Sankofa, Amaro, que ainda mantém sua base em Recife, vai/vem conquistando mais e mais admiradores. Ele é verdadeiramente um espanto.
Seu modo de atacar/acariciar as teclas do piano tem personalidade única. E nas oito composições que formam o álbum, de abordagens várias, revela criatividade e técnica que sem favor podem equipará-lo a gênios como Thelonious Monk. O melhor é que Amaro está começando – e é mais simpático que Monk... Seu trio, com os ótimos Jean Helton (baixo) e Hugo Medeiros (bateria), tem alto poder de fogo. Maracatu, candomblé, minimalismo, atonalismo, música erudita e, claro, JAZZ, entram e saem com naturalidade do espírito multidimensional do trabalho.
Ele diz que, em Sankofa, trabalhou “para tentar entender meus ancestrais, meu lugar, minha história como homem negro”. Um símbolo da África Ocidental, sankofa representa um pássaro com a cabeça voltada para trás, mas tendo em vista o futuro. “Quero dizer às novas gerações: vamos parar de nadar na superfície, vamos mergulhar.” Cada faixa do álbum vive clima próprio. Ao começar a ouvir, você não faz a mínima ideia do que virá a seguir, em Ayeye, Cazumbá, Batucado, Malakoff... A última, Nascimento, bem calma, é dedicada a Milton. Obrigado, Amaro.
- SANKOFA. de Amaro Freitas
Natura Musical/FarOut Recordings. CD R$ 43,50 – o vinil está por sair. Pedidos para contato@78rotacoes.com.br. Disponível nas plataformas digitais
Antena
O.LIT., de Paulo Scott, Flu e 4Nazzo
Todos porto-alegrenses e integrantes da geração anos 60, o poeta e romancista Paulo Scott e os músicos Flávio “Flu” Santos e Marcelo “4Nazzo” Fornazier unem-se no projeto da O.Lit., ou Orquestra Literária. Em 2019, antes de Scott ir embora para São Paulo, eles gravaram este álbum experimental ao vivo.
Cansados de esperar pelo fim da pandemia, no final de junho decidiram levar ao público o resultado. Scott recita cinco de seus poemas com trilha feita de improviso (violão, violão de aço, baixo, beats). Scott recita cada poema de forma diferente – um deles, com “fundo” funk, se chama Exu Mario Quintana.
Disponível nas plataformas digitais.
EM BELCHIOR, de Sandra Pera
Este é o primeiro, digamos, tributo a Belchior programado para 2021. E traz de volta a atriz e ex-Frenética 38 anos depois (!!!) de seu único disco solo como cantora. Produzido por José Milton, o álbum reúne um elenco estelar de instrumentistas e convidados como Zeca Baleiro, Ney Matogrosso e As Chicas.
Com arranjos e/ou atuação de Cristovão Bastos, Eduardo Souto Neto, João Lyra, Jessé Sadok, Jurim Moreira, Jorge Helder e mais, a voz clara e poderosa de Sandra recria Sujeito de Sorte, Divina Comédia Humana, Velha Roupa Colorida, A Palo Seco, Mucuripe e outras.
Biscoito Fino, CD R$ 45.