Por curiosa coincidência, álbuns de duas novas cantoras-compositoras, ambos mesclando música brasileira e africana, estão sendo lançados simultaneamente. Uma é a curitibana Brinsan N’Tchalá, filha de um revolucionário da guerra da independência da Guiné-Bissau que migrou para o Brasil; outra, a angolana Jessica Areias, radicada em São Paulo.
Produções independentes, lançados somente nas plataformas digitais, os trabalhos têm várias identidades entre si, mas elas não se conhecem, o que aumenta a curiosidade. E eu garanto: vale a pena ouvi-los, pois são musicalmente ricos e com um conteúdo cultural forte.
Para gravar este primeiro álbum, Respeito, Brinsan “convocou” um produtor da Nigéria e um de Angola. Eles processam uma mistura de afrobeats, com programações eletrônicas envoltas em muita percussão. O convite à dança é natural, mas se deve prestar atenção nas palavras de Brinsan, pois como ela diz, o conjunto de oito músicas é uma “ode” a sua ancestralidade. As letras são em português, com citações em dialetos criolo e balanta, da Guiné-Bissau.
O canto vigoroso mostra influência do rap. Os climas vão de Guardiões da Kalunga, saudação a Exu que abre o trabalho com uma frase repetida e repetida, à erótica Quando Cê Chega Assim, passando pela ritualística Eu Vou Chegar Lá, “na paz de Oxalá”.
Vivendo no Brasil desde 2009, Jessica Areias integra a minoria branca angolana. Mas nas oito canções de Matura, seu segundo disco, a África Negra é que se manifesta, com o som de tambores e beats eletrônicos pautando violões/guitarras (Leonardo Mendes), percussões (Cauê Silva) e convidados como Manecas Costa, da Guiné-Bissau, e o grande Tiganá Santana.
A voz moderna, harmoniosa e maleável de Jessica conduz o clima tribal do álbum em músicas com letras em português e nos idiomas nacionais de Angola (umbundo, kimbundo e kikongo). Às vezes há ares de música baiana de candomblé, como em Muzongue. A hipnótica Lemba tem a assinatura do conterrâneo famoso Filipe Mukenga.
Bemóis & Sustenidos
MARISA MONTE
Portas, novo disco de Marisa Monte, começa a se mostrar nas plataformas digitais com a chegada do single Calma (dela em parceria com Chico Brown, neto de Chico Buarque). O último álbum de MM com canções inéditas saiu em 2011. Distribuição será da Sony.
TRICK BERNARDI
O projeto Trick’n’Roll, do gaúcho Trick Bernardi, lança no dia 18 o álbum Aerochumbo, com participações de Carlinhos Carneiro, Mário Petracco, Paulo Arcari e mais. “O som transita entre referências clássicas como Rolling Stones e Mutantes, entre outros”, diz ele.
NICOLA SÓN
O cantor francês Nicola Són já gravou vários discos de música brasileira. Agora, com Piaf do Brasil (gravadora Biscoito Fino, já nas plataformas), ele traz o universo da lenda Edith Piaf para ritmos brasileiros e latino-americanos, como samba, choro, jongo e bolero.
ELZA SOARES
A Deck Disc acaba de disponibilizar nos aplicativos de música cinco álbuns de Elza Soares que estavam fora de catálogo: Elza Soares (1974), Nos Braços do Samba (1975), Lições de Vida (1976), Pilão+Raça = Elza (1977) e Grandes Sucessos de Elza Soares (1978).
MARCUS BOTTEGA
Tempos atrás conheci Marcus Bottega, que tem o mais impressionante estoque de discos “usados” de Porto Alegre, 100 mil. Como precisava abrir espaço em minha discoteca, passei a ele uns mil títulos, entre CDs e LPs. Estão no Bric Conceição (Rua da Conceição, 490), fone (51) 3221-4626.