O compositor e pianista Benjamim Taubkin talvez seja o brasileiro que mais realiza cooperações com músicos de outros países. Os dois últimos exemplos são o documentário O Piano que Conversa, de Marcelo Machado, visto nos cinemas em setembro, e o recém lançado CD + DVD Música na Serrinha.
O álbum duplo resulta de 10 dias de criação/diversão no Festival Arte Serrinha, evento múltiplo que se realiza desde 2002, sempre em julho, na zona rural do município de Bragança Paulista, a 88 quilômetros de São Paulo. Encarregados de formar o elenco musical, Taubkin, Jaques Morelembaum e Marcos Suzano convidaram Kyngso Park (Coreia do Sul), Sahib Pashazade (Azerbaijão), Antonio Arnedo (Colômbia), Mayra Andrade (Cabo Verde), mais os brasileiros Carlos Malta, Jovi Joviniano, Sacha Amback e Meno Del Picchia.
Também dirigido por Marcelo Machado, o DVD registra o processo de nascimento das músicas a partir de uma ideia, uma frase. Os músicos, os técnicos de gravação e de filmagem se reuniram no estúdio montado no galpão da fazenda, e a "coisa" começou. E assim seguiu dia e noite, com pausas para as refeições (os cozinheiros eram igualmente convidados do festival) e caminhadas em meio à natureza.
Praticamente do nada surge uma composição coletiva feita por gente que, de uma maneira geral, nunca tocou junto antes — e ainda com instrumentos estranhos, como o "tar" do simpático Sahib e o "gayageum" da bela e suave Kyngso. O público no galpão era formado por familiares de todos (incluindo crianças), outros artistas, o staff do festival e um cachorro que sempre andava por ali observando tudo.
O CD reúne oito temas "cortados" daquele aparente caos. As autorias são atribuídas a quem propôs a linha básica. Malta, por exemplo, entrou com duas, ligadas aos mistérios da noite no interior, Mula Sem Cabeça (um dueto de pífanos com Arnedo) e O Lobisomem, esta em parceria com a ótima Mayra, que fez a letra sobre a paixão dela por um lobisomem ("A cada lua cheia eu sou feliz", diz um trecho), todo mundo uivando ao final.
Todos maravilhosos, o violoncelo de Morelenbaum, os saxes de Malta e Arnedo, a percussão de Suzano e Joviniano, o baixo de Del Picchia, o teclado de Amback, o piano de Taubkin, que define: "A Serrinha nos deixou transparentes, nus. Foi uma oportunidade única e rara de fazer música como se brincássemos de roda". Sugestão: ouça o CD primeiro, para degustar melhor o filme depois.
Álbum duplo CD e DVD. Selo Núcleo Contemporâneo, R$ 50. Disponível nas plataformas digitais.