A Gente Mora no Agora - Paulo Miklos
Embora tenha dois discos (1994 e 2001), Paulo Miklos considera que este é, de fato, seu primeiro trabalho individual. Produzido por Pupillo (Nação Zumbi), A Gente Mora no Agora reflete o período de sofrida turbulência pessoal de Miklos, que em 2013 e 2014 perdeu a mulher, a mãe e o pai, e em 2016 deixou a banda Titãs, da qual foi cofundador em 1982. É um álbum vigoroso musical e poeticamente, reunindo parceiros de diferentes gerações e estilos. Com letra de Emicida, A Lei Desse Troço, faixa de abertura, sintetiza em formato de rhythm’n’blues esses momentos de Miklos: “Tudo que eu faço é me erguer dos destroços”.
Também há comentários fortes sobre o Brasil atual, como no ótimo rock País Elétrico (letra de Erasmo Carlos) e no baião Afeto Manifesto (com Lurdez da Luz). Mas não pense que é um disco depressivo; ao contrário, é afirmativo, inclui o novo amor do cara, saudado em Estou Pronto, balada com a parceria e o piano de Guilherme Arantes. Entre os parceiros estão ainda Arnaldo Antunes, no frevo Deixar de Ser Alguém; Tim Bernardes na pesada Samba Bomba; e Céu, na abolerada Risco Azul. Nando Reis deu de presente a romântica Vou Te Encontrar, e Mallu Magalhães mandou o samba-rock Não Posso Mais. O grupo compacto de músicos (a não ser onde tem cordas e metais) produz um resultado de alta combustão sonora. Discaço!
Natura Musical/Deck, CD R$ 24,90, LP R$ 99,90, disponível nas plataformas digitais
Certos Tipos e Suas Canções - Duo Balangulá
Formado em 2009 na cidade de Campinas pelos violonistas e violeiros Alê Freire e Zé Esmerindo, ambos com formação acadêmica e várias atividades paralelas, em 2011 o Duo Balangulá começou a percorrer o Estado de São Paulo com o show Certos Tipos e Suas Canções, resultado de uma daquelas ideias que parecem cair de maduras, só que ninguém materializou antes. O mote: reunir canções de todos os gêneros brasileiros que se refiram a um personagem, ou personagens. A pesquisa foi fundo e deu o maior pé, pois a empatia com o público é imediata. Na primeira faixa, a moda de viola Certos Tipos, o duo apresenta o projeto, citando personagens como Zelão, Escurinho, Chico Brito, Malvadeza Durão e Juliana (aquela do Domingo no Parque).
A sequência passeia pelo Brasil dos anos 1930 aos 2000, entre toada, samba, samba-canção, xote, baião, de Catirina (Jararaca, 1930) a Maria do Socorro (Edu Krieger, 2006), passando por Mulato Bamba (Noel, 1932), Maria Rosa (Lupicínio, 1950), Maria Macambira (Babi de Oliveira, 1953), Filomena e Fedegoso (Jackson do Pandeiro, 1960), Morro Velho (Milton Nascimento, 1967), A Morte do Chico Preto (João Firme, 1975), Herança de Matuto (Levi Ramiro, 1997) e outras. O pano de fundo é simples, os instrumentos do duo mais uma sanfona aqui, uma percussão ali. Mas funciona.
ProacSP/Tratore, R$ 24,90 em popsdiscos.com.br. Disponível nas plataformas digitais.