A demolição do prédio conhecido como Esqueletão, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, vai começar nos próximos 30 dias. O contrato com a empresa que executará o serviço foi assinado após uma intrincada análise pericial e jurídica.
Há seis anos, o Ministério Público Estadual já pedia a destruição da edificação. Mas foi a partir de um processo judicial, que reuniu todos os donos de apartamentos e salas comerciais do imóvel, e um laudo assinado por técnicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que a prefeitura de Porto Alegre abriu espaço para garantir a demolição.
A grande conquista já foi obtida. O prédio, que corre o risco de ruir, não sobreviverá a 2024.
O desmonte foi dividido em etapas. Os andares superiores - do 10º ao 19º - serão demolidos manualmente. Depois disso, a parte dos fundos, voltada para a Rua Otávio Rocha, e a da frente do prédio, também serão destruídas da forma convencional.
A partir disso, será possível abrir espaço para a implosão, um processo de destruição mais impactante. Deverão ser usados 25 quilos de explosivos. E aqui entra minha inquietação: essa última etapa necessita ser feita desta maneira?
A empresa contratada tem expertise no assunto. Ela tratou da demolição do prédio da Secretaria Estadual da Segurança Pública do Rio Grande do Sul.
O engenheiro Manoel Jorge Diniz Dias foi o responsável pelas implosões do edifício Palace II, no Rio de Janeiro, da penitenciária do Carandiru, e do edifício Berrini, em São Paulo, e do estádio da Fonte Nova, em Salvador. Ele mesmo reconheceu que risco zero não existe.
— O risco zero não existe, mas assim como em outras obras, já convivemos com situações muito mais extremas em termos de risco e comoção. Não vou dizer que é uma obra fácil, representa um desafio — avaliou Dias, durante anúncio da demolição feito pela prefeitura.
Visualmente, uma implosão chama a atenção. Mas o Esqueletão é cercado por outros imóveis. Fica numa região complexa. Então, por que não realizar toda a destruição de forma manual? Por que a pressa? Por que não estender em mais alguns meses o desmanche total deste monstrengo, que Porto Alegre se habituou a conviver? Será que vale o espetáculo? Será que vale o risco de uma edificação próxima sofrer algum impacto?
Depois da demolição
Ainda não se sabe o que será feito com o terreno após a demolição do Esqueletão. O prédio tem cerca de 50 proprietários e há dívidas em IPTU. Em setembro de 2021, a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF) avaliou o imóvel em cerca R$ 3,4 milhões.
Já o custo da demolição será de R$ 3,79 milhões, que está sendo arcado pela prefeitura de Porto Alegre. Quem irá dizer como a administração municipal será ressarcida e qual será o futuro do terreno será o Judiciário.
Inacabado desde a década de 1950, o Esqueletão já foi interditado administrativamente pela prefeitura em pelo menos duas ocasiões, nos anos de 1988 e 1990. Também já houve interdição judicial em 2019.