O ano era 2013. A Região Metropolitana de Porto Alegre sofria com os congestionamentos, principalmente, na BR-116. Passar diariamente pela cidade de Canoas implicava horas perdidas dado o tamanho da fila de carros que precisavam passar pela região.
Aguardada com expectativa, a construção da Rodovia do Parque avançava com todas as dificuldades envolvendo obras públicas. No mês de março daquele ano, o governo Dilma e as construtoras acordaram que o dia 20 de dezembro traria a inauguração da rodovia. Um dos articuladores da decisão foi o então diretor executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Tarcísio Gomes de Freitas, hoje ministro do governo de Jair Bolsonaro.
Para cumprir o prazo e não se indispor com o governo federal, as empresas se apressaram. Nos lotes um e dois, entre a BR-386 e Sapucaia do Sul, as construtoras não só correram contra o tempo mas contra a lei da física. Não foi dado o tempo suficiente para o adensamento do aterro, o que deixou ondulações na Rodovia do Parque.
Sete anos depois, caminhamos para um cenário semelhante. As obras da nova ponte do Guaíba ocorrem desde outubro de 2014. O ritmo frenético que a construção tomou desde no segundo semestre de 2020 já indicava a intenção do governo: inaugurar o que for possível da travessia até o fim do ano. Essa é a meta do governo.
Na semana passada, a assessoria do Ministério de Infraestrutura confirmou que o presidente Bolsonaro desembarcará no Rio Grande do Sul no próximo dia 10. O objetivo é participar de solenidades de entrega de trechos duplicados da BR-116, entre Guaíba e Pelotas, e também a nova ponte. Em julho, Tarcísio Gomes de Freitas chegou a dizer que a estrutura seria entregue dois meses antes do previsto - em outubro -, o que não se confirmou.
Porém, o Dnit ainda não trata o prazo como definitivo. Um viaduto segue sendo construído na BR-290, na região das ilhas. Trabalhos que ocorrem durante a madrugada, e também nos finais de semana. Recentemente, o governo federal destinou mais R$ 11,92 milhões para a obra, com o objetivo de manter o ritmo acelerado e proporcionar uma inauguração parcial ao governo até o fim do ano.
A entrega da obra é uma necessidade. Óbvio que quero ela liberada o quanto antes, mas em que condições? Mas a que preço?
A entrega da travessia já está três anos atrasada. Outro fator a ser levado em consideração: nesta "inauguração do dia 10 de dezembro" é que só três das sete alças de acesso à ponte deverão ser liberadas -: entre Eldorado do Sul e Gravataí, em ambos sentidos, e entre Eldorado do Sul e a Avenida Castello Branco.
Já o acesso de quem vem pela Avenida Castello Branco e pretende seguir em direção a Eldorado do Sul não estará concluído até o fim de 2020. E ninguém sabe quando será finalizado.
Somente após a retirada de 500 casas, das vilas Areia e Tio Zeca, será possível dar continuidade às obras para construção de quatro das sete alças de acesso da elevada. Sequer foram marcadas as audiências de conciliação na Justiça Federal. O Dnit precisa fazer o pedido para que as datas das negociações sejam agendadas.
Diga-se de passagem que promessas de governo sobre obras não é exclusividade dos governos Dilma e Bolsonaro. No governo de Michel Temer, em 2018, o então ministro da Secretaria Geral de Governo chegou a prometer a inauguração da nova ponte até o fim daquele ano, o que também não se confirmou.