Obra pública no Brasil sempre atrasa. Você certamente já ouviu e comprovou essa frase. Seja em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul ou além do Mampituba. E elas ficam mais caras. São intermináveis. Cada governante encontra algo para usar como justificativa. E como temos.
Já as obras particulares têm ritmo diferenciado. Elas também atrasam, mas nada comparado com a esfera pública. Já comentei aqui os regramentos e proteções que o dinheiro dos impostos sofrem para que sejam bem cuidado e que não seja desviado. Também vimos em terras brasileiras, num passado recente, que, quando se quer, se desvia sim, seja com ou sem lei.
Mas e quando a obra é particular e realizada num espaço público? E quando quem paga a construção tem interesse em entregar ela com o menor custo e em tempo mais rápido do que o previsto? Todas as obras deveriam ser assim, não é? E por que não são?
Proponho aqui, portanto, aprender com quem está conseguindo mostrar que é possível. Me refiro ao grupo alemão que assumiu a concessão do aeroporto Salgado Filho. A Fraport está há pouco mais de dois anos responsável pelas melhorias do terminal. Executou todos os serviços contratados no período adequado, sem pedir prorrogação ou aditivo. Ampliou o terminal, criou novas áreas de embarque, aumentou o pátio de aeronaves e até mais vagas de estacionamento.
Quando a responsabilidade da ampliação do terminal estava nas mãos da Infraero, 19% dos trabalhos foram executados em dois anos e sete meses. A Fraport assumiu, demoliu o que até então havia sido feito, reconstruiu o que precisava, tudo isso em um ano e sete meses. Mas como foi possível? A partir de agora tento desvendar o mistério.
Coluna: por que a Fraport consegue entregar obra no prazo?
Fraport: Para entregar as obras com qualidade, segurança, dentro do custo e do prazo, a Fraport Brasil busca profissionais qualificados e que têm experiência em projetos de aeroportos, ou então, em projetos de grande porte no Brasil. Os principais fatores de sucesso, além de uma equipe qualificada, são a competência, o compromisso, a responsabilidade, a transparência e o poder de decisão. Além disso, a confiança nos parceiros que se unem à Fraport Brasil. Neste contexto, o prazo é somente um dos pilares. Entregas no prazo mas sem qualidade e segurança e fora dos custos acordados não são aceitáveis.
Coluna: como é feito o planejamento?
Fraport: O planejamento é executado de forma detalhada, abrangendo todas as etapas e considerando sempre os melhores e piores cenários identificados. Cada etapa, cada serviço, é acompanhado de perto pela equipe da Fraport Brasil de forma a garantir que tudo seja alinhado.
Coluna: como se consegue cumprir todas as etapas sem atraso?
Fraport: A Fraport Brasil se planeja sempre para fazer o melhor nas piores condições esperadas (aqui considerados os mais diversos fatores: fornecedores, licenças, legislação, meteorologia etc). Etapas intermediárias podem ter atraso, em função de problemas pontuais, mas as entregas contratuais não podem atrasar. Portanto, um acompanhamento e supervisão de obras eficiente e atuante é fundamental.
Coluna: o que é feito para impedir atraso e garantir eficiência?
Fraport: Supervisão e acompanhamento de obras eficiente e atuante; ter um contato direto com a direção da Empresa para tomadas de decisões rápidas e sempre olhando o cenário como um todo.
Coluna: o que é feito quando é identificado que pode haver atraso?
Fraport: Problemas ocorrem. Mas estes não podem ser encobertos ou postergados, têm que ser compartilhados, discutidos e resolvidos. Atuação transparente, rápida e tomada de decisões visando o todo e focadas em resolver os problemas com competência são peças-chave. Não existe receita mágica, é trabalho duro e organizado e equipe com competência, comprometida, responsável e com transparência.
Antes de iniciar essa troca de mensagens com a assessoria da Fraport, porém, a empresa fez um alerta. A última obra que resta ser feita deverá atrasar. Trata-se da ampliação da pista do Salgado Filho. Desde 2018, a Fraport pede que a prefeitura conclua a remoção das famílias que moram no traçado da pista. O cronograma de retirada das últimas casas deverá ser concluído com quase um ano de atraso, o que faz o grupo alemão já admitir que "é muito provável que não entreguemos (a ampliação) dentro do prazo" (dezembro de 2021).
Certamente, os gestores públicos encontrarão uma diferença do tamanho do Itaimbezinho para citar como é mais fácil executar obra no setor privado. Mas supervisão, acompanhamento, zelo, planejamento e cobrança também não dependem do lado da gestão que você está.
É fato que os servidores públicos são abnegados, que trabalham em condições defasadas e adversas. O problema maior tem nome: burocracia. Como flexibilizá-la sem que seja aberta a porta para as pessoas de má índole? Para essa pergunta, eu e você ainda não temos resposta.