Se não bastasse a demora na remoção das famílias e a falta de recursos financeiros, a construção da nova ponte do Guaíba, em Porto Alegre, tem um novo desafio: será necessário refazer um trecho de 200 metros.
Parte da elevada no Canal Furado Grande, localizada entre a Ilha Grande dos Marinheiros e a Ilha do Pavão, foi construída 44 centímetros mais baixa, segundo determina o Manual de Hidrologia Básica para Estruturas de Drenagem do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Como regra o manual diz que uma ponte só pode ser erguida se respeitar a cota de cheia, que é quando o nível do rio atinge sua altura máxima histórica. Para tanto, é necessário prever que a elevada seja construída sempre no mínimo um metro acima do nível máximo.
No caso dessa região do Guaíba, a altura da ponte deveria ter 4,10m, mas está sendo construída com elevação de 3,66m, ou seja, 44cm mais baixa. Dessa forma, há risco da elevação das águas invadir a ponte e ela precisar ser interditada.
O projeto foi desenvolvido pelo consórcio Ponte do Guaíba, formado pela construtora Queiroz Galvão e EGT Engenharia, que também é responsável pela obra. O Dnit endossou o estudo e autorizou o começo dos trabalhos.
O problema vinha sendo relatado por moradores das ilhas nas audiências públicas de reassentamento das famílias. A constatação oficial foi feita pela empresa Ecoplan Engenharia, contratada pela autarquia para fazer a supervisão da obra. A coluna teve acesso a este documento de forma exclusiva.
O Dnit foi comunicado do problema no fim de março. Procedimentos administrativos foram abertos para apontar os responsáveis. A autarquia em Brasília já solicitou documentos das empresas. Porém, publicamente, o departamento não reconhece que houve um erro e que diz que está sendo avaliada uma "melhoria" na estrutura.
"O Dnit esclarece que ainda está em estudo uma possível melhoria no projeto da nova ponte do Guaíba. Caso a alteração venha a ser feita, ela não acarretará em nenhum custo adicional para a Autarquia", diz nota enviada pelo departamento à coluna.
A explicação do Dnit não deixa claro se o reparo será feito. Caso a decisão seja de não fazer o conserto, há risco da ponte ser bloqueada na região se houver elevação do Guaíba. Também há risco da construção sofrer problemas estruturais com a cheia.
Se o reparo for autorizado, o consórcio Ponte do Guaíba terá que fazer um projeto prevendo a alteração. Esse processo poderá atrasar em aproximadamente seis meses o ritmo de obras no local, levando-se em conta desde os prazos médios para realização do levantamento até o período da construção. Também procurado pela coluna, o consórcio informou que não irá comentar o caso e afirmou que GaúchaZH deveria procurar o Dnit.
Obra se aproxima do fim
A nova ponte do Guaíba atingiu 84% de conclusão. O Dnit tinha um plano de liberar parte da travessia ainda em 2019, mas este erro poderá atrapalhar a intenção.
A obra começou em outubro de 2014, mas os mutirões judiciais de conciliação, que vão garantir novas moradias para quem precisa ser reassentado só começou em 2018. O término das obras, que deveria ter ocorrido em outubro de 2017, foi prorrogado para junho de 2020. O Dnit ainda precisa de R$ 180 milhões para conseguir finalizar travessia.
Demissão em massa
A demora no reassentamento das mil famílias que precisam mudar de endereço para garantir a construção da ponte já está afetando o ritmo das obras. O consórcio já demitiu 170 funcionários no mês de maio, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Rio Grande do Sul (Siticepot-RS).