Se houvesse um bazar de sentimentos, onde estes pudessem ser estocados e tivéssemos que dar um escore a cada um deles, de modo que nos permitisse hierarquizá-los, qual deles você colocaria no topo da sua lista?
Certamente esperança e gratidão ocupariam um lugar de destaque nesse rol, porque precisamos dela para energizar o que queremos ser e do reconhecimento quando o que conseguimos merece respeito. Mas quando recapitulamos os acontecimentos considerados inesquecíveis, quase sempre sobressai a emoção.
Porque é ela que traz, na sua essência, os mais poderosos fixadores da nossa memória. É pela emoção que são guardados nos arquivos implacáveis da nossa reminiscência afetiva os melhores e os piores momentos das nossas vidas.
Quando a maré não é tão generosa, e por isso estamos carentes, festejamos até a fala providencial de um amigo exagerado.
Quando estamos felizes por alguma coisa boa que construímos, a emoção brota espontânea, mas quando a maré não é tão generosa, e por isso estamos carentes, festejamos até a fala providencial de um amigo exagerado. Aliás, aprendi a considerar imprescindível este tipo de amigo, para se contrapor aos supersinceros, sempre dispostos à verdade absoluta. Sem contar o quanto parecem mais animados (ou seria exultantes?) quando a tal verdade é absolutamente ruim.
Quando alguém relembra um acontecimento do qual pretensamente participamos e que lhe pareceu importante, mas nós nem lembramos bem, é porque do nosso lado a emoção não existiu ou foi muito pobre.
Como a emoção ou a falta dela são determinantes de entusiasmo ou enfaro, pode confiar que esse quesito servirá de parâmetro para antecipação ou atraso na aposentadoria de colegas de trabalho que elegeram fazer na vida uma determinada atividade, mas para os dois tipos essa atividade não despertava igual emoção.
Para alguns, o alegado cansaço e a busca do merecido repouso depois de anos de trabalho traduzem apenas a escassez de emoções na rotina do que faziam. Ou haverá outra explicação para que alguém que já aprendeu tudo o que podia, não começou a esquecer e tem uma saúde intacta se aposentar por tempo de serviço? Ou seria tempo de sacrifício?
No outro extremo, vamos encontrar aqueles que mantêm o brilho no olho mesmo depois que a diminuição de energia física, essa inegociável imposição da velhice, chegou sem ter sido convidada.
Revisem as biografias dos aposentados precoces e dos que mantiveram o entusiasmo pelo que faziam até a morte, e inexoravelmente perceberão que a pobreza ou a exuberância de emoção no que faziam foi o diferencial decisivo. E dariam sentido à resposta daquele professor que já bem velhinho, quando lhe perguntaram se não pretendia se aposentar, não teve dúvidas na resposta: “Não, eu pretendo viver mais um pouco”.