Depois de muitos anos, nem sei exatamente quantos, encontrei-o na praia, em Vitória. Caminhava com aquela lerdeza de quem saiu de casa determinado a ir a lugar algum. Com mais cabelos do que a maioria dos contemporâneos e uma condição física macroscópica invejável, contou-me que, desde que se aposentara de sua função burocrática, há 20 anos, alternava residência na praia e na cidade conforme o clima e o humor. Pareceu surpreso quando lhe perguntei como ocupava o tempo e anunciou como se fosse um diferencial da qualidade: "Eu caminho muito!". "Bom para as pernas", foi o comentário mais inteligente que me ocorreu.
E então nos despedimos. Ele sem mais o que contar, e eu sem ânimo para argumentar o quanto me parece injusto que esses tantos que aprenderam o que podiam e ainda não começaram a esquecer têm saúde mas, na falta de vontade de fazer alguma coisa útil, contentam-se em esperar a morte, disfarçada de aposentadoria. Um atestado inequívoco de que enquanto faziam o que fizeram preferiam estar fazendo outra coisa.
Claro que as pessoas são diferentes e todas têm o direito de fazer o que quiserem de suas vidas, incluindo nada, e as coisas que energizam alguns enfaram outros. Aliás, são essas diferenças na busca da felicidade que tornam tão pouco produtivos os livros de autoajuda ao proporem modelos padronizados para perfis incomparáveis. Por essas discrepâncias, não se pode pretender afinidade entre tipos que consideram que felicidade é andar descalço na praia deserta e os que acham que ser feliz depende de se alcançar um ponto de equilíbrio no máximo de tensão. Sem dúvida, as pessoas que fizeram alguma diferença nesta vida estavam todas no segundo grupo, mas entender essas disparidades e vicissitudes e não tentar modificá-las, além de prática saudável de convívio social, é um exercício de sabedoria.
Sempre tive a curiosidade de imaginar em que momento da vida uma escolha infeliz desembocou neste desânimo, agora irrecuperável. Teria sido vítima daquela apatia que deixa muitos adolescentes com olhar marasmático e que, de tanto ter dúvida do que fazer, acabam se convencendo que não gostam muito de nada e assumem a primeira função que o acaso lhes oferece, e seja o que tiver de ser?
Ou teriam idealizado algum projeto e desistido quando perceberam que era mais difícil do que imaginaram? A principal marca das pessoas de sucesso é a obstinação, e sabe-se que a maioria das desistências ocorre no primeiro mês do investimento, o que mostra o alto grau de resignação e abandono diante das adversidades.
Quando se observa o comportamento atual da juventude, com a marca da informação instantânea e da privacidade pulverizada pelo compartilhamento total, saltam aos olhos dois erros conceituais graves: não há possibilidade de relacionamentos afetivos sólidos na superficialidade do Facebook, nem a mínima chance de realização profissional sem trabalho árduo. Esta geração marcada pela ansiedade, diante da primeira dificuldade, descobre que os amigos verdadeiros se contam nos dedos, e são os mesmos de antes das redes sociais, e que as conquistas profissionais demandam um tempo às vezes exasperante. Como os milagres são raros, estes jovens se inspiram em exceções de sucesso e ficam presos à fantasia que, quando percebida como tal, instala um doloroso ciclo de depressão, que é o estopim para a maioria das vítimas de drogadição. Só o encanto da descoberta de algo que lhes acelere o coração dará à vida essa energia que enternece a alma, dilui o cansaço, espanta a monotonia e explica por que, para esses felizardos, o ócio da aposentadoria é insuportável.