Ataque dos Cães (The Power of the Dog), da diretora Jane Campion, chega ao Oscar como um dos favoritos à estatueta de melhor filme, e não é à toa. A película apresenta a jornada de homens no faroeste e nos mostra que a discussão sobre masculinidade pode ser muito mais complexa e cheia de camadas subjetivas.
Ambientado em Montana, no EUA, em 1925, o filme conta a história de Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), dois irmãos proprietários de uma fazenda. A diferença entre eles é sublinhada e marca a derrocada de um tipo de masculinidade bruta e violenta que não acompanhou as mudanças de seu tempo. Pois Phil se apresenta como o último "macho alfa", aquele que não lava as mãos e é incapaz de qualquer gentileza, ao passo que o irmão George é gentil, civilizado e sensível em meio a um cenário hostil para homens que não demonstrem sua testosterona a olho nu.
No entanto, a chegada de Peter, um jovem franzino, elegante e delicado, que gosta de fazer flores de papel, passa a perturbar o personagem Phil, justamente porque o jovem Peter não se encaixa no modelo de masculinidade que Phil tanto preza. As cenas de humilhação e grosseria com o jovem rapaz se alternam com a exuberância das imagens de paisagens áridas. Aos poucos, a tensão entre os modelos tão antagonistas de exercício do masculino dão lugar a uma complexa relação que envolve sutilezas, olhares e metáforas.
Ataque dos Cães revela ainda que a maior fragilidade dessa masculinidade bruta e sem nuances está justamente no campo da sexualidade e do desejo. Tanto que as reviravoltas do filme se dão nessas esferas. O filme escapa do excesso de violência, muito comum em filmes de faroeste, e constrói uma narrativa sem clichês e sem apelar para a justa militância do nosso tempo, mas que consegue dialogar com a contemporaneidade, apresentando sem didatismos e sem baratear a questão de gênero, um tipo de homem que não encontra mais espaço em meio a uma sociedade que mudou e que não aceita mais determinados comportamentos masculinos.