Na semana passada, fui assistir a Marighella com uma amiga e, na saída do cinema, não conseguíamos falar por alguns momentos, tal foi o impacto que o filme nos causou. Saímos com a sensação de termos vivenciado ali, naquelas duas horas e meia, todo o horror do que foi a ditadura no Brasil.
Sem dar spoiler, mas o filme já diz a que veio na primeira cena: com uma tomada única e sem cortes, a câmera ágil e colada aos personagens nos coloca de imediato dentro do filme. Dirigido por Wagner Moura e protagonizado por Seu Jorge, Marighella estreia no Brasil após uma série de censuras promovidas pelo governo Bolsonaro.
Diante de todo o processo histórico de embranquecimento de figuras negras, Wagner Moura acerta ao enegrecer ainda mais Marighella. Com uma atuação impecável, Seu Jorge mostra com força a contribuição negra na luta contra o regime militar. O filme traz elementos importantes para a memória e para a cultura brasileiras, justamente porque nosso país ainda não conseguiu resolver as suas duas grandes feridas: a escravidão e a ditadura. E não resolveu porque há sempre uma tentativa de invalidar os fatos históricos. Talvez a mensagem mais importante de Marighella seja: o horror não se relativiza.
Algumas cenas de torturas são longas e causam desconforto no espectador. No entanto, a violência é alternada por passagens de profunda delicadeza em determinados diálogos de Marighella com seu filho, por exemplo. O filme também traz a discussão sobre os limites da luta coletiva e os compromissos da vida privada. Dilemas de quem teve de optar por deixar a família e lutar em prol de um país democrático.
Além de ser um grande filme que deve figurar entre os melhores produzidos nos últimos anos no Brasil, assistir a Marighella é uma resposta que podemos dar a toda essa tentativa do governo federal de censurar a arte e a cultura. Essa tentativa abjeta de silenciar, com medidas autoritárias, a história do Brasil. Portanto, por essas e por outras, caros leitores, aí vai um conselho deste colunista: assistam a Marighella.