Você está caminhando pela rua e de repente encontra alguém. Alguém que você não vê desde o início da pandemia. Primeiro vocês se olham e demoram um pouquinho para se reconhecerem. Logo em seguida, um de vocês solta um “nossa, não tinha te reconhecido com essa máscara”.
Depois, um de vocês estende a mão enquanto o outro faz menção de te dar um abraço. Vocês ficam sem jeito. Então, você abre os braços enquanto o outro fecha a mão para cumprimentá-lo com um soquinho ou com o cotovelo. Um desencontro de gestos. Um “sem jeito” social, pois ninguém sabe ao certo como fazer.
Mais de um ano evitando os apertos de mãos e os abraços. Estávamos sedentos por esse momento. Sabemos que a pandemia ainda não acabou. Mas, com o avanço da vacinação e os protocolos de cuidados, voltamos a algumas atividades presenciais. Ainda teremos muito gestos desencontrados. Estamos reaprendendo a conviver. Ainda há uma ferida para cicatrizar.
No último domingo, autografei meu romance na Feira do Livro de Porto Alegre. Ao meu lado autografavam também o patrono desta edição, Fabrício Carpinejar, e o escritor José Falero. Naquela tarde de domingo, sentimos a alegria e nos comovemos com os leitores de volta à praça. Vimos as filas se alongarem e ninguém reclamou por ter de esperar por quase duas horas. Alguns leitores vinham tímidos, davam os cotovelos, outros mais efusivos perguntavam se podiam nos abraçar.
Aliás, nos tornamos especialistas em nos reconhecer pelo olhar. Mas quando encontramos alguém, precisamos do cumprimento. Este gesto é mais forte do que nós. O gesto é o resultado de uma força interior que o nosso corpo executa. Quando não há esse cumprimento inicial, ficamos sem jeito. Também não queremos parecer frios ou indiferentes.
A verdade é que estávamos todos carentes dessa proximidade. Durante todo o tempo do autógrafo, permaneci em pé. Porque queria receber os leitores mais de perto. Ainda não é possível tirarmos as máscaras, então aprendemos a sorrir pelos olhos. O que já é muito, perto do que já passamos.