Ao trazer Fernando Holiday para o debate em seu podcast, Mano Brown mostrou sua grandeza enquanto intelectual e desmontou o frágil argumento do vereador, que se coloca como “um negro de direita”.
Dono de uma habilidade de reflexão para questões complexas como o racismo e os efeitos da pobreza nas periferias, Brown foi preciso ao apontar as inconsistências no discurso de Holiday, que por vezes “passa recibo” de ingenuidade juvenil, mas não só.
Pois não esqueçamos que este mesmo Fernando Holiday apoiou a eleição de Bolsonaro, é contra as cotas raciais, defende a redução da maioridade penal, ajudou a disseminar a “escola sem partido”, atacou professores e defende a criminalização do aborto no Brasil. Com um currículo desses, um diálogo entre Brown e Holiday pareceria improvável.
Durante o podcast, que aliás tem trazido pessoas interessantes como a cantora Karol Conká, o ex-presidente Lula e Drauzio Varella, Mano Brown procura conhecer o entrevistado. No caso de Holiday, soubemos que o pai desaparecera na infância, da sua relação incômoda com pessoas brancas, seus gostos musicais, os casos de racismo que sofreu e a sua relação com a política.
Na conversa, Brown mantém o respeito, apesar das grandes discordâncias ideológicas. Brown ainda argumenta que jovens negros como Fernando Holiday precisam ser ouvidos por quem discorda de seus pontos de vista. Creio que Mano acerta nesse sentido. Travar um diálogo com quem defende pautas conservadoras e liberais e que, nas palavras do próprio Mano, são pautas que podem ocasionar a morte de pessoas negras, não é uma tarefa fácil.
Embora tenha usado, por vezes, um tom paternal e conciliador, Brown não se furtou em ser incisivo e dizer o quanto é grave para a população negra os discursos que Holiday defende, mas que ele ainda é jovem e pode mudar seu posicionamento.
Quero acreditar, assim como Brown, que Holiday seja um idealista ingênuo, mas sem esquecer da tragédia política que já ocorreu. Resta saber até onde conseguiremos dialogar com quem pensa tão diferente de nós.