A implementação do Novo Ensino Médio deve aumentar as desigualdades na educação. Do modo como está sendo estruturada, a escola pública se transformará num espaço voltado para a formação de técnicos e operários. Nada de errado em ser operário. A questão é a falta de escolha para quem não terá acesso a uma educação de qualidade.
Alunos mais pobres poderão ser empurrados para trabalhos subalternizados. Aliás, este é o sonho do atual ministro da Educação, que afirmou em agosto deste ano que o Brasil precisa de mão de obra técnica e profissional, e não de diplomas acadêmicos.
O Novo Ensino Médio valerá a partir de 2022 e prevê o aumento da carga horária de 2,4 mil horas para 3 mil. De modo que 1,8 mil serão para o ensino obrigatório nas áreas estabelecidas pela Base Nacional de Currículo Comum (BNCC). Enquanto 1,2 mil serão destinadas ao ensino técnico e formativo.
Neste último caso, as opções do que oferecer para os alunos se torna mais flexível. Aí é que está o problema. Pois a escola pública não terá muito o que oferecer além de um ensino técnico e profissional. A proposta também falhou ao não discutir com toda a comunidade escolar sua implementação.
Durante a pandemia, as escolas públicas sofreram com a falta de organização do governo, com a precariedade das aulas online, com a falta de professores e a falta de estruturas básicas para receber os alunos no modo presencial. Ao passo que as escolas particulares seguiram investindo em infraestrutura, na formação de professores e no aperfeiçoamento de aulas online ou híbridas.
O novo modelo passará por cima de questões urgentes e históricas como o aumento de salário dos professores e o investimento maciço na educação. Estamos diante de um aprofundamento silencioso da tragédia educacional. Até quando os governos colocarão professores numa sala de aula precária, com janelas e portas quebradas, infiltrações nas paredes, munidos apenas com um quadro e um giz, exigindo que mudem a educação brasileira?