O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse nesta segunda-feira (9) que as universidades brasileiras deveriam ser para poucos. Em entrevista à TV Brasil, Ribeiro defendeu a volta às aulas na educação básica, ironizou a demanda dos professores por vacinação contra a covid-19 e se mostrou, mais uma vez, surpreso com o tamanho da pasta que ele chefia há mais de um ano.
Para Ribeiro, os institutos federais, com ensino tecnológico e profissionalizante, serão "a grande vedete" no futuro. Ele disse estar cansado de encontrar motoristas que têm graduação completa.
— Tem muito engenheiro, advogado, dirigindo Uber porque não consegue a colocação devida, mas, se fosse técnico em informática, estaria empregado porque há demanda muito grande — disse o ministro.
— Então, o futuro são os institutos federais, como é na Alemanha hoje. Na Alemanha, são poucos os que fazem universidade. A universidade, na verdade, deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade — completou Ribeiro.
Os institutos federais, elogiados por Ribeiro, foram criados em 2008. O ministro disse que desconhecia, quando assumiu a pasta, a existência das 38 unidades.
Também admitiu que "tomou um susto" quando percebeu a variedade de atribuições da pasta.
— Quando cheguei ao MEC, tomei um susto. Eu administro 50 hospitais universitários — afirmou ele.
Não é a primeira vez que Ribeiro demonstra surpresa com a importância e tamanho do MEC. Em janeiro deste ano, questionado sobre falhas na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o ministro argumentou que ainda estava se inteirando sobre a pasta que ele chefia.
Segundo o ministro, metade das vagas nas universidades é destinada a cotas e a outra parte vai para os "alunos melhor preparados":
— Eu acho justo, considerando que os pais desses meninos tidos como "filhinhos de papai" são aqueles que pagam os impostos do Brasil, que sustentam bem ou mal a universidade pública. Não podem ser penalizados.
Ele respondeu ainda questões sobre a autonomia das universidades e a escolha de reitores. O governo Jair Bolsonaro tem ignorado os primeiros colocados na lista tríplice elaborada pelas universidades para a sucessão de reitores. Na da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a nomeação por Bolsonaro do último colocado na lista causou reação contrária.
Segundo Ribeiro, dos 69 reitores das federais, ele conversa "plenamente" com 20 a 25:
— Dez deles (reitores) eu trouxe para visitar o presidente, uma coisa inédita. Não precisa ser bolsonarista, mas não pode ser esquerdista, lulista. As universidades não podem se tornar um comitê político nem de direita e muito menos de esquerda.
Ribeiro defendeu a volta às aulas presenciais e disse que "não faltaram recursos". Segundo o ministro, o MEC transferiu R$ 1,7 bilhão para a compra de máscaras, equipamentos de proteção individual e álcool em gel. A pasta, no entanto, vem sendo criticada pela falta de coordenação nacional para apoiar Estados e municípios no ensino remoto e na reabertura dos colégios com segurança.
Uma análise da execução orçamentária do MEC realizada pelo movimento Todos pela Educação mostrou que o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) teve apenas 17% dos seus recursos empenhados e, para o período dos quatro primeiros meses do ano, não houve nenhuma ação específica no combate à pandemia.
Para o ministro, porém, não houve "culpa do governo federal". Pelo contrário, há um grupo de "maus professores" que não querem o retorno presencial às escolas.
— Eles fomentam a vacinação deles, das crianças, depois do cachorro, do gato — disse. — Como é que o professor é capaz de ficar em casa e deixar as crianças sem aula? A culpa não é do governo federal. Se eu pudesse, tinha mandado abrir todas as escolas.