Em 1999, visitei a Feira do Livro de Porto Alegre pela primeira vez. A pedido de um professor de Literatura, fomos num grupo pequeno de alunos, muito contrariados. Porque naquele tempo, os livros e a literatura não nos chamavam a atenção.
Eu tinha 20 anos e, para nos convencer, o professor disse que tínhamos de ir conhecer a Feira e que não precisávamos nem comprar livros, mas que podíamos dar uma volta e ver as gurias e os guris de nossa idade. Aquilo nos pareceu muito mais interessante. Naquele dia passeei pelas bancas. Lancei um olhar distraído pelos livros. E foi só.
Dois anos depois, voltei à Feira por conta própria e a primeira obra que comprei foi um livro de contos do escritor Caio Fernando Abreu, chamado Fragmentos, da editora L&PM. Foi o primeiro livro de minha biblioteca. Lembro que o devorei em poucos dias. Gostei tanto daquela coletânea de contos, mas não sabia o porquê. Havia algo em sua literatura que me escapava, um modo único de dizer as coisas que me arrebatava.
Então, quando comecei a escrever, tentei imitá-lo. Escrevia histórias parecidas com as dele. Buscava a mesma dicção existencial. O curioso é que eu não sentia a angústia da influência, mas uma alegria. Caio, assim como eu, também foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. Gostaria de tê-lo conhecido, mas tive a sorte de ficar amigo da professora e poeta Ligia Savio, que conviveu com Caio. Através dela, tomei conhecimento de muitas histórias do autor.
No último dia 12, Caio Fernando Abreu completaria 73 anos se estivesse vivo. Caio é um dos principais escritores gaúchos. Escreveu o clássico Morangos Mofados. Foi jornalista, cronista, dramaturgo e tradutor. Entretanto, penso que o conto Para uma Avenca Partindo é um dos textos mais impactantes de Caio, pois se trata de um monólogo interior, de um personagem que tenta dizer algo importante à namorada ao levá-la até a rodoviária, mas não consegue. O conto é sobre o indizível. É sobre essas coisas que carregamos dentro de nós e que não cabem nas palavras.
Caio, você faz falta.