Atitudes como a do prefeito Clésio Salvaro (PSDB), que mandou exonerar um professor de uma escola municipal de Criciúma após o docente reproduzir o videoclipe Etérea, do cantor Criolo, em sala de aula, demonstra que ainda estamos longe de uma mentalidade libertadora e menos dogmática. A postura tacanha e carregada de preconceito do prefeito, que chegou a dizer em vídeo que não permitiria “viadagem” na sala de aula, comprova que a escola continua sendo um espaço importante para “abrir discussões”, como diz a letra de Criolo.
Aliás, o trabalho em questão foi indicado ao 20º Grammy Latino, na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa. Além disso, a letra de Etérea é muito bem-sucedida, sobretudo porque não fala em “diferença”, mas em “singularidade”. Talvez aí esteja o caminho. Num mundo heteronormativo, patriarcal e racista que vê as coisas sempre pela ótica da diferença e, assim, atribuindo valores negativos, falar em singularidades, reconhecendo os aspectos individuais, é uma proposta transgressora.
Ou seja, não se trata de uma celebração da diferença, mas uma exaltação do que é único. Importante pensar desse modo porque se a ideia da diferença diminui aquilo que foge dos padrões, precisamos encontrar outras formas de ver o mundo que não seja pela comparação, pela valoração e pela exclusão.
Enquanto estive em sala de aula, sempre propus reflexões sobre gênero. Tensionar as estruturas que constroem nosso imaginário daquilo que é masculino e feminino é fundamental. Levei para os meus alunos adolescentes textos de Judith Butler, bell hooks, Michel Foucault e, sem dúvida, teria levado o clipe de Criolo para discutir com eles.
É preciso compreender que a escola não é um depósito de recalques da psique de uma sociedade. É ao contrário. O ambiente escolar tem de ser o espaço da liberdade de ideias. Precisamos naturalizar as discussões sobre gênero na sala de aula. Todo o meu apoio ao professor demitido e muitos vivas ao clipe de Etérea.
Salve Criolo!
Confira o videoclipe de Etérea, de Criolo: